estou à tua espera, neste pedaço de tempo
entre os cinzentos do teu olhar
fecho os olhos
as mãos imóveis acariciam a tua pele
o desejo força-me a vencer o sono
e as nuvens tomam forma
e os dedos ganham vida
e estás onde te não vejo
abraço o teu corpo cansado
displicente sobre a cama
entre os fios de luz baça
que violam a escuridão do quarto
porque te vejo a olhares-me assim
quando é a tua ausência que nos preenche
falamos algumas vezes, lançamos o riso pelo mundo
e regressamos cada um ao seu lugar vazio
o remoinho perpétuo deita-me sobre as casas
e em pedaços escorro pelas traves
a porta, se estiver, deixa-a aberta
Laura Alberto / João Miguel Ferreira
Paula Rêgo
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
como as palavras fluem...
ResponderEliminarbelíssimo
parabéns a ambos!
Beijos Laura
p.s. em cada frase encontrei-me por momentos sem me perceber...
boa a pareceria. :)
ResponderEliminar"o remoinho perpétuo deita-me sobre as casas
e em pedaços escorro pelas traves
a porta, se estiver, deixa-a aberta" (!)
Beijo
a imagem da casa aproxima todos os fantasmas da cal. a inquietação não se esgota na porta talvez-aberta, quem-sabe-fechada; estende-se para além da tela onde paula rego exorciza os seus fantasmas.
ResponderEliminarbravo, poetas!