a mesma rua
estreita de sempre
paralelos
gastos, imundos
passeios longos
onde pessoas não se cruzam
[para
qualquer assunto ligue…]
mães
indesejadas de cabelos platinados
fumam cigarros
sem marca
enquanto os
filhos adormecem nos carros empurrados pelos pais, possíveis
[trespassa-se
para o mesmo ou para outro ramo]
pele escurecida
pelo amargo do tempo
barrigas flácidas
exibindo estrias
pinturas
foleiras sobre rostos pesados, sorrisos escancarados
[aqui podia
morar uma família]
número 264,
ou outro número qualquer
procuro o
meu reflexo num qualquer olhar parado
já nem sei
de cor o meu numero, o meu tipo sanguíneo
[barreira
de tijolos em umbrais sem porta
sujidade,
teias de aranha, as marcas de que o tempo escorre para todos]
já fui um
esboço a carvão no teu bloco de desenhos
casas
escuras, varandas em queda abrupta
vasos de
terra queimada, ervas torcidas ressequidas
[para
qualquer assunto dirija-se ao número…]
rua mártires
da liberdade
aposentados
sem carne nos braços, pele pálida desgarrada dos ossos
tronco
oculto por velhas camisolas brancas onde o sujo é cor
e eu já fui
um nome, um suspiro preso na tua boca
rua mártires
da liberdade, os mártires aqui somos nós
o calor
infernal é substituído por uma aragem marítima
e eu já fui
a pedra da tua escultura
lâminas
frias oriundas de longe
264 ou
outro número qualquer, esqueci-me