«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 31 de março de 2009

Vê o mar, poderoso, que se alarga defronte teus olhos.
Observa-o com calma, descobre-o com nervosismo.
A pedra que lanças em breve atingirá o fundo.

No monte onde me encontro não sinto vento.
É inútil a procura do mensageiro,
Pois não existe a desejada conclusão.

O pó entra pelas narinas,
Seu sabor mistura-se no paladar.
A secura da terra invade meu corpo.

Do alto, vasta e ampla é a visão,
Reduzida é a minúcia.
No alto, fortes são os que o atingiram
Descomunal será a queda dos que se despenham.

As leis de Newton não enganam:
Sobe e terás que cair.
Faz e terás que sentir.
Vive e terás que morrer!

quarta-feira, 25 de março de 2009

No silêncio encontrarás a voz.
Do sofrimento contruirás a alegria.
Na desilusão encontrarás o sonho.
Na derrota descobrirás a força.
Alcançado o fim tornarás ao Inicio.


Desculpa amigo, mas ao acabar por responder a ti, também respondi a mim própria.

Haine

Pequeno ser, senhor da desculpa.
Vivendo isolado, prometendo a diferença.
Acenando com a mudança,
Num futuro inexistente.

Pequeno ser inútil, senhor do silêncio.
Construindo a sua Torre de Babel,
Num pacto sem contrato
De um fim anunciado.

Pequeno ser desprezível, senhor do tormento.
Proferindo o habitual discurso
Da mudança anunciada, jamais avistada.
Distribuindo o insensível toque,
Na promessa do inexacto amparo.

Oh! Pequeno ser de sentimentos, asqueroso!
No dia em que tu acordares,
Encontras a solidão como tua companhia.

Algures

Num breve instante de tempo eterno,
O toque fortuito das tuas mãos.
Nunca planeado, mas muito desejado,
Por um, por outro, pelos dois.

Uma mão gélida, percorrendo o corpo inflamado
Esquecido da sua existência.
Que deseja o desencontro
No interdito encontro.

O beijo perdido, nunca recebido
Nesse amor nunca reclamado,
Outrora sentido, no presente confirmado.

A dor que consome, a nós destruindo,
Numa acto ardentemente desejado
Impossível de avistar a dolorosa realidade.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Um grito para dizer quem sou:
A pessoa com quem se cruzam todos os dias,
Indiferentes da diferença,
Conscientes da insignificância.

Um riso disfarçando o que sinto.
Sem paciência para me perder em conversas fúteis,
Mascaradas por enganadores sorrisos.
Abafadas por um caloroso, frio, aperto de mão.

Um aviso para dizer que estou,
Onde a vossa inveja me levou,
Sempre recordando aquilo o que sou.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Porto

Sonhei, sonhei que estava em Nova Iorque, New York, New York! No céu um vagaroso corrupio de densas nuvens cor de chumbo, uma suave brisa cortante que penetra no mais fino dos sobretudos, e transito, muitos automóveis, autocarros, táxis, motorizadas, motos…
Abri os olhos e estava realmente lá. Pessoas passavam por mim, formigas concentradas na sua labuta diária, semanal, mensal anual, e eu estava lá. Diluída na multidão, camuflada por entres as torres de cimento, que cortam o céu imaculado, que o Criador inventou para que a cidade, a minha cidade, poluísse, rasgasse e esventrasse a sua suja virgindade.
Sim eu estou lá, na rápida cidade que se arrasta lentamente ao longo da sua curta existência, New York, New York. Se eu chegar a ti, sei que chegarei a todo o lado.
Procuro viver, fingindo que vivo,
Uma vida que vivo fingindo viver,
Vivendo seguindo uma vida.
Morrendo fingindo que vivo,
Vivendo fingindo morrer.

sexta-feira, 13 de março de 2009

A galope por entre as sombrias florestas,
Envoltos em denso nevoeiro,
Ombros protegidos por uma pesada manta.
Na mão direita as rédeas
Na esquerda, a nervosa espada.

Olhos inchados de noites sem sono,
Vividas num incessante medo da emboscada
Olhos cansados de procurar o inimigo invisível,
Escondido nos patamares do esquecimento.

A galope seguimos, por entre essas florestas,
No meio de pedras soltas,
Descendo as subidas vertiginosas,
Subindo as descidas íngremes.
Entre riachos secos imaginários.

A galope seguimos, por aquelas florestas,
Ansiando o odor ferroso do sangue.
Desejando o cheiro da carne putrefacta.
Senhores da Vida, Escravos da Morte.

Os profetas da verdade,
Igualmente os loucos da sociedade!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Sucedem-se os teus dias, iguais a muitos outros.
O relógio não pára. Tic-tac, tac-tic.
Acordas depois de uma noite de sono
Deitas-te depois de um dia de árduo trabalho.

No aconchego frio dos lençóis
Vais respirando calmamente,
Mas o dióxido de carbono não é expelido
Nem tão pouco o oxigénio inspirado.
Acordas, com falta de ar,
Encharcada num suor que não te pertence.
Procuras uma imagem que não vislumbras.
Rendes-te ao vazio da tua existência

Procuras o aconchego de uma mão,
Caindo num sono ténue.
Receias o monstro.
Na mão esquerda a lança,
Na direita o escudo.
Um pé em solo firme, outro em revoltas águas.
Vislumbras o monstro nos teus sonhos, tornados pesadelos.
O acordar, o repetir da história vivenciada.

Numa última réstia de força,
Ganhas arrojo, fintando o teu adversário:
O monstro que vive, cercando os teus passos,
Rondando a tua vida,
Sussurrando calor nas noites gélidas,
Soprando uma brisa nas noites abrasadoras.
Ergue-se perante ti, o derradeiro adversário.
Entre a decisão e o acto da matança:
O monstro, és tu.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Percebes, tu??

Fausto 0,8

Raiva.
Raiva é isso que sentes.
Algo que te consome interiormente.
Queima as tuas entranhas,
Rasga o teu ventre,
Libertando o cheiro de carne putrefacta.

Ódio.
Ódio é isso que carregas.
Dentro do teu ineficaz coração,
Bloqueia o teu cérebro.
Limita as tuas acções,
Bloqueando as tuas palavras.

Dor.
Dor é isso que trarás.
Eternamente em ti, e para ti.
A desculpa do que fizeste.
O arrependimento do que deverias ter feito.
O futuro que escolheste.

Sentir.
Sentir a alma queimada por um fogo gélido.
Que te destruirá por dentro.
Iludindo o comum dos mortais por fora.
O sorriso que disfarça o desespero.
A palavra que anseia pelo silêncio.

O fim?
Ou o inicio?

domingo, 1 de março de 2009

"Nunca ninguém viaja tão alto como aquele que não sabe para onde vai" Cromwell

Fausto 0,7

Fausto, todos os teus ossos estão frágeis.
Segues o teu trilho cercado por uma incerteza sempre certa.
Nas pequenas pausas curas as tuas nódoas negras.
Fazes o teu frágil físico forte, e a tua mente impenetrável.
Não reconheces o presente, ignoras o futuro.
A DUVÍDA está lá. Sempre. Sempre.
Um martelo pneumático que te massacra o pensar.
Um medo. O MEDO.

Prossegues, enganando os amigos erróneos, numa coragem mentirosa.
Enfrentando o teu medo, vivendo no medo.
Rapidamente tombas e numa falsificada agilidade,
Ergues o teu corpo estragado, auxiliado por uma desconhecida perseverança.

E que vais fazer tu, Fausto?
Quando a força que nunca tiveste acabar?
Quando na tua batalha ficares sem acção, imóvel, com o teu medo?
O TEU MEDO; OS NOSSOS MEDOS.

Que vamos fazer Fausto,
Quando a realidade se tornar a nossa realidade?
Quando o fim se precipitar sobre nós?

Perdemos a força? Encaramos a amarga realidade?
Escolho o fim? Ou escolho o início?

Fausto 0,1 - Quantas?

Quantas vezes?

Quantas vezes caí nas teias da sedução inexistente.
Construindo histórias assentes numa ilusão efémera,
Desbastando incorruptíveis corações apaixonados.
Quantas, quantas vezes!
Quantas vezes prometi amar
Desconhecendo o meu par.
Desejei desbravar um sentimento de amor, ódio e caos.
Sim caos, numa inexistência de sonho.
Num pesadelo inacabado.
Quantas vezes amei, desejei, senti, amei, desejei, construí, amei, desejei, entreguei-me? …
E quantas foram as vezes que me enganei, que errei, que me enganei, que errei?...
E quantas foram as vezes que de novo tudo comecei…
A amar.
A desejar.
E quantas foram as vezes que errei?
E…
Quantas…
Foram…
As…
Vezes…
Que…