[e o cheiro que a terra liberta nas primeiras águas
é o mesmo quando o sol teima em permanecer]
escrevo deste lugar distante, entre as horas que passam
que se passam sobre nós
e entre nós, o que se ergueu foi o silêncio
[e o cheiro que a terra liberta nas primeiras águas
é o mesmo quando o sol teima em permanecer]
adivinho o segundo que se segue, como uma tempestade anunciada
entre as paredes nuas
e desconheço o dia que surgirá, quando a noite se apagar
procuro o lugar onde dormir e não encontro uma cama
para adivinhar os sentidos que perdi,
procuro o lugar para ficar e não encontro os braços
que seguram o meu corpo arrasado de cansaço,
procuro o amanhã
mesmo que trazido cambado pela porta
e é o teu cheiro que ainda resta
entre gavetas, estantes, armários, vazios
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
nenhum tempo que se ergue entre dois lugares tem o hálito da primavera... mas, que importa? o homem que não rejeita o que foi será inteiro mesmo que para além do tempo, mesmo que em lugar nenhum...
ResponderEliminarbeijo, laurita!