já não observo o meu rosto ao espelho
conheço de cor todas as manchas que me cobrem a pele
navego nas suas rugas vincadas e sou um naufrago na tua boca
se eu me olhar no espelho
sei do pó que me cobre a face:
é o mesmo que resta da longa espera
talvez encontre uma saída
talvez parta o espelho em milhões de formas geométricas, sem forma
já não reconheço o crânio e a pele que o cobre,
todos os vasos sanguíneos onde ainda circula o sangue,
a boca seca, fechada
o nariz dilatado
talvez os polegares me cubram as orbitas
onde deviam estar os olhos
e eu descubra dois fossos vazios

Marcantonio, Cinco Monotipias 2001
os olhos enganam, laurita. procura ver o essencial para além da sua órbita e nenhum espelho se fará mais necessário do que o lixo que se nos cola nos sapatos.
ResponderEliminarbeijo grande!
Laura, só não concordo que a minha imagem, ou qualquer outra que você aqui utilize, confira maior dignidade ao que você escreve. Elas não podem senão ser arrastadas pelo fluxo extremamente pessoal das sua palavras.
ResponderEliminarBeijo.