Porto
trago-te sempre comigo
mesmo que seja imenso o alcatrão que nos separa,
aquele onde a água deixa marcas brancas
ou o sol seca os sonhos em farrapos velhos
conheço cada uma das tuas calçadas
as pedras, conto-as todos os dias em sonhos
as pedras, onde sei do sangue dos que foram esquecidos
e as lágrimas derramadas por nomes não mais chamados
sei das tuas casas, dos teus quintais,
dos teus becos, dos teus bairros
sei onde repousa o dia e a noite o cobre os passeios povoados de lixo
tu e eu, estamos sempre mergulhados em silêncio
enquanto os outros passam, cegos e apressados
e tu eu esboçamos sempre um sorriso à navalha afiada
Fotografia de Laura Alberto, Avenida dos Aliados
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
Já tinha lido, no texto do perfil, a tua "paixão" pela cidade do Porto. E que bem está ela patente neste poema! :) Adorei!
ResponderEliminarGosto particularmente destes versos:
«tu e eu, estamos sempre mergulhados em silêncio
enquanto os outros passam, cegos e apressados
e tu eu esboçamos sempre um sorriso à navalha afiada»
Lindo, Laura!
Beijinho e boa semana!! :)