Escrevo porque nada
mais me resta no frio da noite solitária.
Escrevo, antes que
a minha carne seja pó, antes que a pele se suma.
Escrevo, pois nada
mais tenho a fazer do que esperar, do que ter coragem.
Escrevo e a lâmina
repousa na mesa diante de mim, inerte, ameaçadora.
E enquanto escrevo
esqueço-me de mim, deixo que a pele entre na carne, a carne desapareça nos ossos
e os ossos se partam nas mãos de um desconhecido.
Não acendam velas,
queimem apenas aquilo que eu escrevo.
Foto de Pedro Polónio, http://club-silencio.blogspot.pt/