Deserto
o piar dos pássaros chega aos ouvidos
sorrateiro pelas falhas de granito
dissolve-se nos riscos baços de luz
não preciso passar da ombreia da porta:
lá fora o feno liberta o seu odor
entre nuvens grossas de candura
e não sei o que se esconde atrás dos vidros
e não sei onde deitar o meu corpo
e não sei o lugar que ocupo neste mapa desbotado
aqui:
demora-se a seca entre as águas
e as faces apagadas são riscadas por dedos tortos
Fotografia de António Nunes
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
[todas as manhãs, desertas sobre o deserto, desenham na areia o passo ventado da palavra, e prosseguem, abrindo os caminhos à luz do mundo]
ResponderEliminarum abraço, Laura
LB