«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

sábado, 22 de agosto de 2009


Recolhi um grão de areia,
Iludindo uma forma de arranhar teu coração.
Destilei as gotas do mar,
Ambicionando afogar a dor.
Orientei o vento Norte,
Tentando agitar o teu pensamento.
Guardei as chamas de Hefaistos,
Que queimariam o olhar.

Procurei-te nos séculos da minha vida,
Encontrando-te nas rugas da existência.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Nenhures I


O cruzar de caminhos acidentados,
Previamente traçados,
Precipitadamente percorridos.

Almejando o esperado.
Descobrindo o desejado inesperado.
Consciente na mortalidade de uma carcaça.
Crédula na eternidade das acções.

Do silêncio proferirei a palavra,
Na acção hastearei o lirismo.

Algures I

Longínqua ilha das Caraíbas,
Encontro-me perdida em nenhures,
Desejando encontrar algures
A esperança sentida em ti.

Guardo ainda nos poros,
O suor sagrado do teu clima.
Conservo religiosamente no olhar,
As intermináveis noites de trovoada.
Respiro o vento de Norte,
Das longas tardes,
Culminando em abençoadas chuvas.
Que tudo limpam,
Que tudo me levaram.

Afogo-me nas ondas revoltas,
Do fim das tardes,
Sem data.

Farmácia das Oliveiras 13 de Agosto de 1959/13 de Agosto de 2009

A antiga entrada ainda existe,
Renovada por uma porta de vidro.
Aprendemos a tirar a senha,
Mas o hábito não se perde:
Para a esquerda os que procuram o DOUTOR
Para a direita os que querem aviar a receita.

Já não se vislumbram as antigas prateleiras,
Onde cientificamente se colocavam os medicamentos,
Agora guardados em gavetas.
Os vidros boticários lá continuam em silêncio.
O livro preto ainda é folheado.
Sob o olhar atento do seu mestre.

Nós confiamos cegamente no diagnóstico exacto.
Continuando a deparar com a amizade de sempre.
Ao longo de todos estes tempos de mudanças
São cinquenta anos do mais puro que existe.

domingo, 16 de agosto de 2009

era inevitável