«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Demorou imenso tempo
Até que teus lábios inertes,
Articulassem as palavras
Que no íntimo desejei ouvir.

Tardou a resposta,
Perdida nos meandros do pensar,
Da pergunta,
Encerrada em segredo.

Tempo passou.
Passou tempo.

Alguém amou,
Aquilo que perdeu.
Alguém perdeu,
Tudo o que amou.
Conheçam este ser
Deposto defronte dos vossos olhos.
A criatura negra,
Disfarçando entre o riso histérico,
Mergulhada na imensa solidão.

Venham ver a pessoa que vive,
Colorindo os vossos dias,
Enquanto se precipita na escuridão,
Apregoando a esperança,
Onde vivência o desespero.

Vejam este ser,
Que todos os dias se despe,
Habilmente iludindo,
Aqueles que se dizem amigos.
O general e o seu pesado casacão,
Conduziam os homens pela bruma.
Entre corpos chacinados
Perdidos nos anais da história.
Ao som de gritos de dor,
Carregados pelos ventos do desespero.

Sob o colete o coração que bate,
Ruidoso pela vida,
Silenciado pela morte,
Ressuscitado na vitória.

Os prados da esperança
Deram lugar as mecânicas cidades
Do futuro.
Os trilhos da perseverança
Cobriram-se de incapazes auto-estradas.
Mas a guerra, ainda se esconde lá.
Mas a guerra, ainda se esconde aí!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sempre

Por vezes durmo,
Sobressaltada na noite negra,
As vezes acordo,
Em ânsia pelos dias sombrios.

Muitas vezes desespero,
Perdida na existência do tempo,
Tantas vezes receio,
O fim da existência do Ser.

Poucas vezes choro,
A decisão inevitável,
Escassos segundos receio,
O início do fim.

Sempre tive certeza
Na incerteza de o ser.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Na realidade…

Reconheço uma brecha algures,
Que dá entrada ao vento,
Arrastando consigo os ciclones dos dias.
Carrego um vazio desde sempre,
Lembrando a memória
Da perda dilacerante.

Tenho o coração despovoado
De tudo aquilo que te ofereci.
O pensamento consciente
Da derrota do sonho impossível.

A raiva na falta de coragem.
O ardor na omissão do amor.
A certeza da repetição dos mesmos enganos.

Talvez

Não.
O rio recusa descer o leito,
Galgando o granito de encontro à foz.
Sim.
O relógio perdeu a corda,
Esquecendo a hora que passa.
Não.
O vento esmoreceu nas colinas,
Ignorando a semente.
Sim.
As chuvas secaram os oceanos
Inundando os desertos.
Não,
Encontro as regras.
Sim,
Revejo o futuro.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Por fim a tempestade que se avistava,
Alcançou o seu destino.
Os céus azuis tingiram-se de cinzento,
Os enérgicos ventos apagaram o Sol,
A corajosa chuva precipitou-se sobre a Terra.

Finalmente o dilúvio cumpria os oráculos,
Enquanto os deuses brincavam sem temor.
Até que enfim eram escorraçados
Os jocosos humanos.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Europa vestiu o cómodo casacão,
Observando com os olhos da indiferença,
Surda às suplicas de auxílio,
Imóvel perante os que caem.

Esqueceu a posição de soberana,
Preferindo a lugar de espectadora.

A Europa desistiu!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Encontrei-me no local de onde um dia saí, procurando aquele sonho que nunca vi.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

INCOMODO?

E uma formiguita arrastava o mundo.
Puxando-o, decidida, para a sua toca.
Decidia que ele seria o seu brinquedo,
Enquanto pensava como dispor os homenzinhos.

Rolava a bola azul, empurrada pela formiguinha,
Ignorando o seu destino, confiando.
Os homenzinhos viviam, imitando,
As acções impensadas dos seus antecessores.

Rolava o mundo, abismo fora,
Satisfazendo o capricho,
Seguia o mundo, futuro fora,
Vivendo acomodado, incomodando-me.
Da janela do meu quarto prevejo o Inverno.
Os altos picos de uma minúscula montanha
São ocultados por um denso nevoeiro,
Envolvendo os gigantescos pinheiros,
Libertando o odor revigorante de eucalipto.

Na minha mente imagino o Inverno.
Os dias que passam a correr,
Desejando as noites frias,
Passadas em silêncio nesse quarto,
Onde adivinho a chegada do Inverno.

Da janela do meu quarto vejo a escuridão.
O dia dá lugar ao crepúsculo.
Os silêncios libertam os sons.
Uma coruja pia timidamente,
A mesma coruja fala corajosamente.

No meu intimo desejo o Inverno,
Para acordar do meu hibernar.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Como eu.

Só.
Como a arvore que morre especada,
Caindo ruidosamente na floresta silenciosa.
Só.
Como a gota de água que baixa,
Mergulhando no oceano indiferente.
Só.
Como a pedra que rola,
Precipitando-se no desfiladeiro ausente.
Só.
Como a sombra que alastra
Diluindo-se na noite sombria.
Só.
Como o vento como o vento que galga
Perdendo-se nas eternas planícies.
Só.
Como o ser iludido,
Que teima amar.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Aguardo pacientemente a chegada da noite.
Pacificamente sentada no meu banco do jardim,
Desejo a subida do nevoeiro, vindo do rio,
De encontro ao ponto da espera.

Sinto o ar frio correndo ao lado da estrada,
Enquanto me sento em esperança,
Calmamente suplicando o regresso
Do desfecho dos dias infinitos.

Na luz do dia projecto a sombra da noite,
Dormindo de olhos abertos.
Na escuridão da noite vivo desperta
Procurando o devaneio do ser.

Desejo o sono da noite profunda
Para te reencontrar no sonho.
Naquele nosso sonho nunca partilhado.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Não, não podes.



Não me apetece falar.
Quero apenas ser como tu,
Uma onda do mar que chega à costa,
Vinda do infinito onde habita o nada.
Um frio pedaço de água,
Contornando habilmente gigantescos rochedos,
Somando os semelhantes, subtraindo os desiguais.

Não me apetece sentir.
Quero apenas ser como tu,
Onda do mar ocultando o sentimento,
Seguindo o curso das marés,
Chegando. Partindo.
Ignorando para quando o regresso,
Adiantando um possível epilogo.

Não. Não me apetece escrever!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Tu.
Tu estás longe demais.
Tu.
Os dias passam iguais.
Iguais ao passado, semelhantes ao futuro.
Tu.
Tu vives longe demais.
Tu.
Sento-me naquele banco de jardim,
Aquele que nem imaginas existir.
Tu,
Tu continuas longe demais.
As pessoas passam,
Partem rumo ao seu destino.
E tu?
E eu?
Eu.
Eu estou perto demais…

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Uma ervilha descansava sobre um grão de areia.
O relógio, teimoso, insistia em bater as doze horas.
Isolados brotos de erva resistiam ao vento leste.

Folhas dos dias habitavam os calendários.
O relógio, teimoso, dava as horas, mantendo-se parado.
Tic Tac. Tic Tac
Os frutos transformavam-se em flores.

O Universo, decidido, parou a sua expansão.
O relógio, teimoso, desafiou a gravitação.
E uma formiga arrastava o mundo.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Para o Free Fox

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Sacanas

Os senhores do mundo,
Sentados atrás das suas secretárias,
Lançando os dados viciados,
Num jogo sem regras,
Movimentando os peões num fim inadiável.

Decidindo o futuro próximo,
Dos que cumprem cegamente,
Esperando a recompensa inexistente,
Daqueles que ditam
O discurso gasto pelos tempos.

Ah! Esses senhores do mundo,
Nos seus gabinetes assépticos,
Confortavelmente instalados,
Ignorando o pensamento,
Fingindo a sabedoria.

Ah! Esses sacanas dos senhores do mundo!
Ah! Esse sacana do mundo!

29/10/2009 18:15

Onde é que ela vive?
Numa terra desconhecida dos mapas,
Habitada por bizarras personagens.
Familiares aos forasteiros esquecidos,
Recordados nas noites vazias.

Onde é que ela está?
Escondida nos sorrisos vagos,
Disfarçada em vulgares discursos,
Proferidos na multidão, fitando a solidão.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

25/10/2009 16:40

Onde é que ela se esconde?
Nas altas montanhas do medo,
Barricada em paliçadas de esquecimento.
Fugindo ao olhar dos vigilantes,
Fintando os destemidos batedores.

Onde é que ela se refugia?
Nos profundos vales do pensamento,
Encoberta pelos meandros do presente.
Escapando aos cumpridores assassinos,
Vivendo com o anónimo futuro.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

... e saí!

Naquela noite de Inverno,
Em que o vento desalinhava os céus,
E a chuva teimava em não parar.
Dois corpos encontravam-se na bruma,
Renunciando resistir ao suprimido.

Na noite em que a esfera celeste insistia em cair,
Forçando o destino de mil estrelas,
No abismo dos dias.
Dois corpos tocavam-se na escuridão,
Consumindo o desejo utópico.

Naquela noite, dois corpos, antes duas pessoas, amaram-se.
Eram duas, foram uma, são duas.
Naquela noite de Inverno o meu ser foi teu querer, o teu querer foi o meu ser.
Naquela noite disse-te:
-Adeus...

Fausto 0,10

Pois é Fausto, retomei aquela velha estrada perdida no tempo. Sabes, aquela estrada longínqua na memória, não alcançável pelo olhar.
Não sei para que lado virei, sem uma referência não consigo distinguir a esquerda da direita. Uma rajada de vento tanto me leva numa rotação de 180º ou de 360º.
Ah! Não, não Fausto. Não me perguntes sobre as dúvidas.
- Sim, pergunto. Insisto. Não passas de uma traidora.
Pobre Fausto, enquanto não regressares ao início, não traçarás o futuro.
- Triste alma, o que vives é uma ilusão disfarçada.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Corta o cabelo.
Toma banho.
No fundo do baú vais encontrar uns jeans.
Veste-os.
Não te preocupes com o frio,
Algo acabará por te aquecer.
Transporta a mochila pequena,
É suficiente para o necessário.
Os sonhos guardam-se na mente,
Até ao dia em que perturbam a visão.
Não receies o medo, pois é ele que te faz avançar.
Os olhos mostram-te o futuro,
Os teus pés levam-te a ele.
Não é a força que te carregará ao destino,
Ou o temor que to impedirá de o alcançar,
És tu que terás a consciência
Mas só no dia do juízo final.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Amigo: parece quase engraçado que no livro que me encontro a ler me tenha deparado com este verso. Respondo então ao desafio (re)lançado:
"Toma, é apenas um coração
segura-o na tua mão
e quando chegar o dia,
abre a tua mão e deixa que o Sol o
aqueça..."
Relatos da Revolução Cubana - Ernesto Che Guevara
página 155
Mostra-me.
A casa que habitas cumprindo a equidade dos dias.
Fala-me.
Do país que defendes na incompreensão das leis.
Conta-me.
Os sonhos que perdeste diluídos em medo.
Deixa-me.
Ouvir o coração que bate esquecido do tempo.
Revela-me.
A individualidade do ser mascarada em números.

Mostro-te.
As casas que habito saltando entre os dias.
Falo-te.
Do país que vislumbro no futuro.
Conto-te.
Os sonhos ganhos nas batalhas do inevitável.
Deixo-te.
Ouvir o coração que clama contenda.
Revelo-te.
O Ser descoberto na perceptível mudança.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Disse que ia escrever mil vezes a palavra:
Amo-te.
A giz, no velho quadro da escola.

Prometi que ia dizer mil vezes a palavra:
Amo-te.
No silêncio da noite para que todos ouvissem.

Teclei mil vezes a palavra:
Amo-te.
No meu blog para que todo o mundo o soubesse.

Sonhei mil vezes a palavra:
Amo-te.
Para que pudesse simplesmente existir.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Meu cavalo alado levou-me nos céus.
Corria meu cavalo branco.
Fugindo às nuvens de vento,
Rompendo pela estratosfera.

Meu cavalo branco mostrou-me o mundo.
Assim via meu cavalo alado,
Essa esfera achatada nos pólos,
Azul celeste, como se céu se tratasse.

Meu cavalo alado desvendou-me as florestas,
Dançava meu cavalo branco,
Entre as copas das arvores,
Sorrateiro nas veredas abismais.

Cansado, meu cavalo branco pousou em teus braços.
Cumprido a impossibilidade do Ser.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009


Naquela manhã de Outono acordei sem forças.
Todo o peso do Universo tinha caído sob meus ombros.
As palavras soavam imperceptivelmente nos meus ouvidos.
Os murmúrios entoavam por entre a mente.

Os membros tentaram em vão mexer,
Numa tentativa fracassada de fuga.
Os pulmões inspiravam o ar,
Para com custo o expirar.

As leis intocáveis teimaram,
Quase derrotadas pela solidão.
O inexplicável esgueirou-se entre as frestas do pensamento.
Do fim fez-se o início, da queda a ascensão.
Corri na madrugada chuvosa,
Entre vales e montes imaginários,
Penetrando na floresta em sonho,
Envergando o destino sob os ombros.

Fugi da aurora que irrompia,
Guardando-me nas grutas da ilusão,
Enquanto esperava pelo crepúsculo
Que me levasse da realidade.

Falseei os dias compridos,
Murmurando em loucura,
Cavando o abrigo de Babel,
Em torre elevada nos céus.

Compreendi a enigmática perda,
Da existência assumida.
As palavras que se escrevem,
Dia após dia.
Noite após noite.
Formam estranhas frases que criam um poema.

Todo o sentimento do mundo,
Registado numa enigmática prosa.
Letra de uma música que ecoa,
Na mensagem que transporta.

A dor que consome o condenado,
Prisioneiro numa teia que não teceu,
Acaso de uma vida anulada,
Revisitada em contínuo sobressalto.

O amor que lentamente corrói,
Num fogo doloroso,
Aquele cujo erro foi amar
Quem nunca existiu.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Vezes sem conta

Quando foi que nos amamos?
Em sonhos.
Quando foi que demos voz ao sentimento?
Em silêncio.
Quantas vezes nos desejamos?
No desconhecido.
Quantas vezes nos tocamos?
Na solidão dos dias.
Quantas vezes nos amamos?
Na sinopse do tempo.


Quando foi que te conheci?
No nunca de um amanhã.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Escrevi-te um poema nas asas do vento,
A quem pedi que fosse mensageiro.
Elevaram-se as palavras no céu,
Para que do teu refugio o percebesses.

Roubei a voz dos animais,
Esperando que no silêncio o ouvisses.
Apaguei a luz do sol,
Desejando que na escuridão o visses.

Despertei na fria madrugada,
Procurando em vão a réplica que viesse.
Adormeci na solidão da noite,
Em ânsia que o sonho se realizasse.

Cobri o sonho com uma manta de estrelas,
Iluminando o abismo que me deixaste.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Pedi a Ícaro as suas asas,
Para que pudesse voar no céu alto.
Iludi-me pensando avistar-te,
Pequena grande criatura.

Subi entre nuvens de esperança,
Viajando entre raios ténue luz,
Fugia daqueles todos,
Procurava encontrar-te a ti.

Corri os cantos do globo,
Bradando o teu nome,
Mas quem me ouviu não me percebeu,
E quem me percebia, não me quis ouvir.

Teimosamente escrevi teu nome,
Que se perdeu nas malhas do tempo.
Naquela tarde encontro-me aí.
Exactamente no local estranho daqui.
Nesta hora estava por ali,
Precisamente no tempo daí.
Num segundo descobri-me daqui,
Perdida do tempo aí.
Num estranho minuto vi-me aqui,
Em fuga incessante daí.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Uma gota de água fugiu ao oceano,
Veloz entre as teias dos átomos,
Contrariando o ininterrupto ciclo,
Numa provocação do inevitável.

Toda aquela água concentrada numa gota,
Em fúria galgando os imensos rochedos,
Numa procura da distante foz,
Escondida nos mapas da história.

Humilde respingo de água
Seguindo o curso do leito devido,
No cumprimento rigoroso do ordenante,
Conhecedor da engrenagem do Universo.

Simples gotícula de água obedecendo,
Em silêncio prevenindo,
A derrocada fortuita.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Quando

Desejo silenciosamente uma noite de Verão.
Para que no silêncio do quarto verde,
Um sardão laranja veja subir pela parede.

Amanhã será Inverno,
Para que no barulho do quarto azul,
Corra a aranha roxa, encerrada no seu canto.

Ontem foi Outono,
Uma triste borboleta vermelha
Transpôs a janela, de encontro ao solo.

Não me lembro quando foi Primavera,
E o Universo era infinito.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Mensagem

A neve alva cobriu as searas numa noite de Verão.
Chamando a si a mudança temida.
A luz-guia do náufrago errante,
Apagou-se no luar de Janeiro.
O que dormia acordado,
Despertou nas trevas da luz.

Os mortais consultaram os oráculos.
Iludindo a lição sabida,
Fintando a certeza do destino.

O delta inundou-se de água fecunda,
Concebendo o futuro.
Os barcos naufragados desfraldaram as velas
Ao sabor do vento.
As ruínas ergueram-se em cidades

Os oráculos testemunhavam o futuro.
Escrevendo esperança
No trilho a seguir

O Ser sucumbiu perante o homem,
O Homem foi assassinado pelo ser.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Futuro

Não morri.
Arrisquei a resistência do cinzento granito.
Não desisti.
Afinquei em solo firme.
Não desesperei.
Colhi o fruto da insistência.

Chorei, sim.
Limpando o pó dos olhos.
Sim, caí.
Para compreender.

Sim, morri sim.
Para renascer.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

sábado, 22 de agosto de 2009


Recolhi um grão de areia,
Iludindo uma forma de arranhar teu coração.
Destilei as gotas do mar,
Ambicionando afogar a dor.
Orientei o vento Norte,
Tentando agitar o teu pensamento.
Guardei as chamas de Hefaistos,
Que queimariam o olhar.

Procurei-te nos séculos da minha vida,
Encontrando-te nas rugas da existência.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Nenhures I


O cruzar de caminhos acidentados,
Previamente traçados,
Precipitadamente percorridos.

Almejando o esperado.
Descobrindo o desejado inesperado.
Consciente na mortalidade de uma carcaça.
Crédula na eternidade das acções.

Do silêncio proferirei a palavra,
Na acção hastearei o lirismo.

Algures I

Longínqua ilha das Caraíbas,
Encontro-me perdida em nenhures,
Desejando encontrar algures
A esperança sentida em ti.

Guardo ainda nos poros,
O suor sagrado do teu clima.
Conservo religiosamente no olhar,
As intermináveis noites de trovoada.
Respiro o vento de Norte,
Das longas tardes,
Culminando em abençoadas chuvas.
Que tudo limpam,
Que tudo me levaram.

Afogo-me nas ondas revoltas,
Do fim das tardes,
Sem data.

Farmácia das Oliveiras 13 de Agosto de 1959/13 de Agosto de 2009

A antiga entrada ainda existe,
Renovada por uma porta de vidro.
Aprendemos a tirar a senha,
Mas o hábito não se perde:
Para a esquerda os que procuram o DOUTOR
Para a direita os que querem aviar a receita.

Já não se vislumbram as antigas prateleiras,
Onde cientificamente se colocavam os medicamentos,
Agora guardados em gavetas.
Os vidros boticários lá continuam em silêncio.
O livro preto ainda é folheado.
Sob o olhar atento do seu mestre.

Nós confiamos cegamente no diagnóstico exacto.
Continuando a deparar com a amizade de sempre.
Ao longo de todos estes tempos de mudanças
São cinquenta anos do mais puro que existe.

domingo, 16 de agosto de 2009

era inevitável

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Tanto mar justamente revolto,
Galgando impiedosamente os firmes rochedos
Arrastando os perdidos prisioneiros.

Todos os oceanos clamando num pranto,
Pelo local do encontro,
Convocando a inevitável revolução.

Imensas as majestosas montanhas,
Fecundadas pelo vento,
Portador da notícia.

Tristes os que choram na praia de outrora,
Derrotados aqueles que permanecem em silêncio,
Gloriosos os que morrem na terra seca,
Contemplando a longínqua pátria.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Universo

O fim.
O inicio.
De nada.
De tudo.
De ontem,
Sendo hoje,
Esperando por amanha.

O frio,
Perdido no calor.
Encontrado no lá.
Desejado aqui.
Esquecido aí.

O desespero.
A esperança.
Encerrada,
Na liberdade de fugir
Para estar prisioneiro.

Braço partido,
Impedindo,
Aquilo que desimpede,
Na possibilidade,
Da impossibilidade.

O amanha,
Esperando.
Por hoje,
Sendo ontem,
O inicio,
De nada,
No fim.

A paz,
Na guerra.
A morte,
Na vida.
O azar,
Na sorte.

Ou

A sorte,
Na vida.
O azar,
Na morte.
A guerra,
Na paz.

O sentido.
Que não tem sentido.
O sentido.
Que não fez destino.
O destino.
Que nunca teve sentido

Não.
Sim.

Talvez.

A pergunta terá resposta.
As respostas terão perguntas.

O início terá o fim.
O fim será o início.

O preto.
No branco.
O cinzento,
No preto,
No branco.

Talvez.

Sim.
Não.

O átomo.
No mundo.
O mundo,
No universo.
Desorganização.
Organizada.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Palmilhando o caminho traçado,
Inocentemente programado,
Entre sonho e realidade,
A dureza da escolha:
Seguir o previsto fugindo do desconhecido?
Mergulhar na apetecível incerteza?

Loucos os atalhos que tomamos,
Ocultados por desculpas comuns,
Disfarçando por entre a multidão,
Honestamente sendo o Eu
Secretamente encerrado no momento da concepção.


Acertado é o rasto que fica,
Testemunha fidedigna,
De tudo o que ficou escondido.
Ah! Fumava agora um pensativo cigarro.
Calmamente inspirava o fumo,
Tentando absorver o limite de alcatrão,
Encharcando os meus pulmões em nicotina,
Para deliciosamente expirar o fumo azul.

Apenas um único e solitário cigarro,
Para brincar com ele entre os dedos,
Senti-lo nos lábios,
Perdendo-me na brasa laranja
Transformando-se em leve cinza.

Ah! O utópico cigarro fumado,
Contra leis,
Indiferente ao espaço.
O impossível cigarro
Jamais acabado.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Quando descobri que te amava?
Naquele sitio onde perdemos o sentir,
Num desejo de alcançar o impossível,
Na estrada perdida do tempo?

Quando compreendi que te amei?
No instante em que tudo se precipitou
Bruscamente para a (in)decisão,
Cerrada em sufoco?

Quando percebi que iria amar-te?
Na existência mergulhada em solidão,
Cercada de um nada,
Disfarçado de um todo?

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O vazio de uma folha alva,
Clamando pelo desbravar
De um solitário boligrafo.
Ansiando pelas letras que se unem.

O desespero do Homem,
Que em turbulência sentado,
Planeia a rota a seguir,
Por entre os muros da ignorância.

A palavra que se escreve,
Não espelha a dor que se sente,
A dor que se sente,
Não corresponde à palavra que se escreveu.

A fúria do Homem,
Em revolta com o pensamento,
Construído na firmeza dos princípios,
Corrompido pela podridão do presente.

Sofre aquele que sente,
Fingindo na verdade que nada sente,
Vivendo aquilo que na mentira sente,
Com cólera sentido aquilo que sofre.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Um grão de pó tocou-me no ombro,
Suave como a brisa num dia de Primavera,
Frágil como uma insignificante onda,
Que se dilui de encontro a uma rocha.

Um grão de pó insistiu em tocar-me no ombro,
Fresco como a chuva numa noite de Verão,
Quente como o odor a especiarias
Dos bazares a Sul.

Um grão de pó ousou tocar-me no ombro,
Frio como as noites de Outono,
Ágil como as águas dos rios,
Em fuga para a foz.

Um grão de pó resoluto tocou-me no ombro,
Longo como as noites de Inverno,
Forte como as sequóias
Elevando-se no céu.

Um grão de pó tocou-me no ombro.
E eu acordei.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Articulas os teus finos lábios,
Deixando sair o silêncio.

Abres os teus desmesurados olhos,
Para entrever a escuridão.

Mergulhas no éter,
Em busca da palavra.

Segues o teu trilho
Rumando sem destino.

Ergues os teus braços,
Sem ter quem abraçar.
A vertiginosa queda,
Daquele que ligeiro ascendeu,
À elevada montanha.
Em curso pelo estudado caminho,
Galgando os inocentes.
Que na sua ingenuidade,
Confiam naquele que lidera.

A espada da justiça,
Cortando o ar em redor,
Do pescoço do falso líder.
Num golpe seco,
Fazendo vencer a voz da razão,
Num mundo onde impera
A errónea convicção do individuo.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Cada pergunta encerra em ti uma resposta.
Cada resposta em ti disfarça uma pergunta.
Cada afirmação não é mais do que uma negação.
Cada negação nada é que uma CERTEZA.

Quantos?

Quanto sofrimento cabe num grão de areia?
Quantos grãos de areia são transportados no bico de um pássaro?
Quanta dor existe numa lágrima?
Quantas lágrimas inundam um campo de trigo?
Quantos suspiros contidos num sopro de vento?
Quantos ventos alinham num vendaval?

Quanto fogo existe em ti Homem?
Quantos homens encerrados em ti fogo?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Queria dizer que te amo,
Nesse silêncio em que ambos mergulhamos,
Esperando calmamente o dia que virá a seguir.
Queria cobiçar que te desejo,
Nessa noite em que ambos descansamos,
Esperando em sobressalto o dia que virá a seguir.

Quero saber que te amo,
No caminho que ambos percorremos,
Esperando em sofrimento o dia que estarás a seguir.

Virá

Virá de norte o vento lancinante,
Rompendo pelas verdes colinas,
Repousando nas perigosas escarpas acidentais.

Virá de oriente o enfurecido dragão,
Cuspindo fogo calamitosamente,
Em destruição das vidas inúteis.

Virá de algures uma destemida coragem,
Erguendo o desconhecido oprimido,
Sorvendo o suor de Leonidas.

Virá de nenhures a débil cobardia,
Que impede a acção,
Clamada pela razão.

Virá de ti o alento de unicamente Ser.
Acreditando na voz do antepassado
Do Homem que Vive.

Imperial revisitado (para a Maria Emilia)

Com 33 anos provavelmente não terei a circunspecção nem a lucidez necessárias para reflectir sobre a adolescência. Nem tão pouco saberei orientar terceiros a lograr os seus objectivos de vida. Contudo, penso ter a perspicuidade necessária para conseguir uma humilde reflexão de vida.
As dicotomias pautaram a minha adolescência, aliás ainda hoje o fazem. Muitas vezes fui apelidada de cosmopolita, por aqueles, poucos, que, entre pequenas conversas, acabam por me perceber.
Tive a sorte de na infância viver numa cidade, ainda que envolvida numa certa ruralidade. Minha tia chegou a criar galinhas, no mesmo quintal em que plantava algumas couves e legumes para consumo próprio. Para além disso, como o meu tio era caçador, desde cedo me habituei a ocupar as casotas dos cães como meu local preferido de eleição para uma boa tarde de brincadeira. O mundo rural estava a uma meia dúzia de passos da cidade. Muitos foram os passeios que dei pela cidade, sempre acompanhada quer pelo Pacheco, quer pela Laura, se bem que com a minha tia eram mais frequentes as idas primeiro a mercearia e ao mercado, e com a evolução dos tempos ao supermercado.
Estando a cidade do Porto logo ali, para onde os meus pais se deslocavam diariamente para trabalhar, foi com grande facilidade que frequentei as escolas no centro, apesar de viver nos arrabaldes, ainda pouco desenvolvidos, daquela grande cidade.
Ao fim de semana continuava a andar de bicicleta por terrenos baldios, onde agora se encontram urbanizações. Nas férias grandes jogava futebol na rua, que na altura não ligava a lugar nenhum a não ser aos nossos sonhos de super-herois.
Quando os resultados escolares satisfatórios, aliados à minha idade começaram a permitir alguma liberdade, passei a frequentar alguns cafés da baixa acompanhada dos meus amigos da cidade.
Um mundo novo abria-se diante dos meus olhos, todas as tardes apareciam pessoas novas, que com o tempo se tornavam conhecidas e posteriormente amigas. Na mesa do café não se corre atrás de aranhas, nem se pisam as canelas por causa de aventuras disparatadas. Na mesa de café fuma-se, lê-se, mas sobretudo discute-se.
Com os meus amigos citadinos as conversas eram as mais variadas. Sem qualquer ordem estabelecida, conseguíamos sempre organizarmos e expor a todos o que na altura era mais relevante. Cada um falava sobre o livro que lia, lembro-me que uma das minhas amigas gostava bastante de poesia, Fernando Pessoa, terá sido através dela que eu despertei para esse poeta, não para a poesia pois na altura o meu poeta de eleição era, ainda é entre muitos outros, o Eugénio de Andrade.
Alguns frequentadores da nossa mesa, ou melhor mesas, eram alunos de artes e começávamos também a falar de pintura, os mais afortunados colocavam a disposição de todos um ou outro livro de determinado artista, que por serem caros para as nossas mesadas, partilhávamos religiosamente.
Penso que a minha especialidade era a música, em parte por causa da vasta discografia disponível em casa, mas começava a interessar-me por diferentes pensadores, filósofos e era uma defensora acérrima de Sócrates e Platão. Teimava sempre em ler excertos nessas tardes longas de domingo. Sim, porque com algum esforço de argumentação, consegui convencer os meus pais para aos domingos à tarde ir de autocarro, numa viagem de cerca de uma hora até ao Porto, passando a tarde mesmo em frente à paragem onde embarcaria numa viagem de regresso, de mais uma hora.
Apareceram os primeiros filiados em partidos, e como é obvio a politica também era centro das nossas conversas, se bem que todos somos filhos da revolução, nunca sentimos as privações de um regime ditatorial, mas era como se estivéssemos parados no tempo, ou melhor retrocedido.
Naquele tempo travei conhecimento com algumas pessoas sem abrigo, levadas àquela situação devido ao álcool, ou droga. Relembro o Republica que hoje lamento não saber o seu nome verdadeiro, para que fique registado. O Republica media quase dois metros, pelo menos assim me parecia, e tinha uns lindos olhos azuis que sobressaíam numa cara queimada de sol e numa carapinha desgrenhada. Recordo o Anarquista, que foi a alcunha que um de nós lhe pôs, por não conseguir estar sentado mais de dois minutos sem se levantar e ver os pés da cadeira, e por ter conversas, sem sentido, ou melhor com pouco sentido, sobre a igualdade de oportunidades.
Cada um deles, cada tarde no café, todas as aulas de filosofia, fizeram-me crescer naquilo que sou hoje. Não tenho opressão em mim, não vivo mergulhada em fascismo com medo da censura. Vivo no nosso mundo, na nossa sociedade, no meio do Homem. Do homem que teima em não ver, em não sentir, cumprindo as regras, ambicionando mais uns zeros na sua conta bancária e um carro topo de gama. Tenho cartão de contribuinte e pago o meu I.R.S. sem conseguir saber como ir buscar mais dinheiro, para além de um simples P.P.R.. Estou totalmente diluída nesta sociedade que sempre recriminei nos meus tempos de café. Mas sou aquilo que sempre fui. Não posso mudar todo o mundo, como inocentemente pensávamos, mas posso mudar aqueles que estão ao meu lado.
Alguém me disse um dia: “…sempre que achares que tens razão, luta. Sempre que achares que é injusto di-lo, não tenhas medo.” Hoje, é o que eu faço. Sem medo. Porque acredito no Homem.

O café que me refiro é o Imperial, na Avenida dos Aliados. Agora é um restaurante MacDonald`s. Nunca mais lá entrei.

domingo, 21 de junho de 2009

Naquele sitio onde me encontrava,
Teria que me concentrar na labuta.
Um servo cumprindo o seu dever.
E assim me sentei eu, decidida,
Plenamente resoluta a fazê-lo.

Sentada, em silêncio.
Aquele meu fiel companheiro de sempre.
O silêncio que de início era doloroso,
Era agora objecto do meu desejo.
Em silêncio, sentada.

A obrigação foi diminuindo,
Tornando-se inexistente.
O pensamento fluiu subtilmente,
Éter em direcção ao infinito,
Diminuía a obrigação.

Imensas eram as perguntas,
Assaltando-me no vazio daquela tarde quente.
O que devia ter sido terá agora lógica em o ser?
O que com medo foi pensado será agora revelado?
As perguntas da tarde imensa.
A incerteza é incerta.
Não se sabe se é,
Ou se não o é.
A incerteza é isso mesmo,
Ter a certeza que na realidade é incerto.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Finalmente hoje compreendi,
Do sitio onde me encontro,
Vejo-me sozinha.
Seguem-se os dias,
Idênticos ao passado,
Cópias no futuro.
Vivem-se as noites,
Mergulhadas em silêncio,
Acompanhadas de solidão.

Afinal um dia acabaria por perceber,
O caminho? Sou eu que o trilho.
A coragem? Sou eu que a possuo.
A derrota? Sou eu que a sinto.
O começo? Sou eu que o faço!
Quando? Quando o quero!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Das altas cinzentas nuvens,
Cairá uma pesada chuva fria,
Encharcando o bravo guerreiro
Fortemente empunhando a espada.

Águas gélidas que correm pelas mais altas escarpas,
Seguindo por entre vales de encontro à foz.

Do circulo polar árctico
Soprará o vento cortante,
Secando o rosto daquele que serve,
Impiedosamente carregando as daishô.

Vento forte de norte, lançado ao seu destino,
Percorrendo o caminho sem fim,
Daquele que orgulhosamente Sonha.

Chuva fria deitada ao acaso,
Cobrindo o trilho intransitável
Daquele que humildemente É.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Quantos erros teremos que cometer,
Para assim compreender a única escolha?

Dos caminhos seguidos, quantos nos levarão
Ao fim não desejado, aspirado em silêncio?

Quantas vidas teremos que comprometer,
Perdidas no vasto mar da cobardia?

Das palavras ditas, quais trarão
O medo do cativeiro do pensamento?

Quantas serão as vezes, que em silêncio,
Desejamos morrer?

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Mecânica Newtoniana

Estranha essa força desconhecida,
Que faz os planetas orbitar em torno do sol.

Incompreensível essa tal de gravidade,
Que traz todos os corpos para solo.

Bizarras as três leis,
Matematicamente explicando o que nos move
Rápida e lentamente.

Enigmático o enunciado,
Destinando uma igual reacção
Para uma perdida acção.

Oculta essa ciência,
Clarificando as evidências.

Esquivo o Homem,
Que descobrindo o Universo,
Ignora o Ser.
Quando acordei do meu sono profundo,
Desconheci a imagem reflectida pelos meus olhos.
Estranhando o solo que pisava,
Enquanto me detinha sobre o abismo.

O passo cobarde fez-me voltar atrás,
De encontro às escarpas rochosas,
Onde outrora construí aquilo
Que numa inútil sociedade foi vida.

No derradeiro acto de desespero,
Consumida pelo desejo do fim,
Surge a verdadeira vontade,
Chamando a mim o meu destino.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Mundo 2009

Privatização.
Injecção de capital.
Capitalismo.
Abstraccionismo.
Possibilidade.
Corrupção.
Paraísos Fiscais.
Falências.
Injecção de capital.
Desemprego.
Corrupção.
Possibilidade.
Políticos.
Politica.
Esquerda.
Direita.
Bloco central.
Corrupção.
Falências.
Novas iniciativas.
Ricos, enriquecendo.
Pobres, empobrecendo.
Fome.
Excesso.
Saúde publica.
Saúde privada.
Futuro?
Lay off.
Corrupção.
Destruição.

Condescendência

Deixei que o preto das minhas vestes,
Invadisse a minha alma,
Pintando de negro a ínfima cor que ainda existia.

Compreendi o teu permanente silêncio,
Quando buscava a palavra,
Que me guiasse no meu sombrio percurso.

Aceitei a ausência do teu gesto
Enquanto desesperava
Pelo conforto de um abraço.

Deixei que saísses da minha vida,
Querendo-te lá.

sábado, 16 de maio de 2009

Breves momentos juntos,
Partilhando no tempo um espaço em comum,
Entre gestos vagos,
De finalidade perfeitamente definida.

Corpos que se tocaram fortuitamente,
Num desejo cego,
Ambicionando alcançar
Um paraíso proibido.

Tristes almas gémeas,
Seguindo o trilho forçado,
Em silêncio correndo para a separação,
E em segredo desejando.

Seres desesperados,
Vivendo inutilmente,
Eternamente mergulhados na covardia
De não saber amar.

Ou de não querer amar.
Amo-te, meu amor,
Nesse mundo que habitas,
Consumido no medo de dizer,
Sofrendo com o desejo de querer.

Amo-te, meu amor,
Perdido nesse passado recente,
Entre desencontros não programados,
Permanentemente adiados.

Amo-te, meu amor,
No dia em que nos separamos,
Prometendo sem dizer
Que no fim nos vamos encontrar.

Amo-te sim, meu amor.
No silêncio,
Em silêncio.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Maratona

Numa possível acção,
Corro rumo à inexistente meta,
Passos certos, num caminho desconhecido.

Inspiro.
Expiro.
Torno à direita,
Querendo seguir pela esquerda.
Sem retorno possível.

Expiro.
Inspiro.
Aumento a velocidade,
Ignorando suspender a corrida,
Cansada pelo trajecto.

Inspiro.
Expiro.
Envolto em mistério,
Vislumbro um fim,
Que continuo a não encontrar.

Inspiro,
Cobiçando o saber de 100 anos.

Expiro,
Desejando um corpo de 18 anos.

Sigo correndo,
Na maratona de uma vida.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Douz

Regresso da possível viagem,
Na mala um monte de roupa suja,
Nos pulmões o pó do deserto,
Olhos vazios de imagens,
Numa mente cheia de percepções.

O retorno à vida que não escolhi,
Confronto com essa sociedade forçada,
Em ritual desgastante de um dia adormecido.

Trago o pó do deserto nas narinas,
O cheiro abafado do oásis desejado.
Nos olhos a imagem da areia dourada,
Facilmente impressa pelas patas dos camelos,
Rapidamente revolta pelo vento sul.

O tornar a uma língua familiar,
Que finjo não ouvir
Numa ausência total.

Sinto ainda o ar abafado,
O calor que cerca o corpo,
Tornando impossível movimentos rápidos,
Sem o inevitável cansaço.

Vejo ainda o pôr-do-sol,
Naquele local onde eu fui Eu,
À descoberta.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

01-05-2009

Circulo cerrado de mentiras,
Onde te encontras desde a concessão,
Vivendo a ilusão da verdade,
Consumida pela percepção da mentira.

Memórias de uma longínqua infância,
Povoada pela ausência dos parentes,
Lembrança de uma infância,
Repleta de amor dos presentes.

Nos gestos vagos, o falso arrependimento,
Breves remorsos do passado,
Eternamente presente.
A desculpa, nunca proferida,
Perdida no acto da absolvição.

A história acabará por se repetir,
Refrescando a memória daquela história:
Onde os amigos são inimigos,
As doces palavras transportam o fel da maldade,
E aqueles que amamos são os que nos odeiam.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Porto 2

Ruas íngremes, serpenteadas por estreitas vielas,
Povoadas de estranhos seres de dentes cariados.
Onde o odor a urina sobressai no familiar odor a mofo.
Paralelo gasto pelo passar dos anos
Infinitamente percorrido por varinas de socos,
Baptizado por água suja que corre em direcção ao rio.

Casas que ameaçam ruir
Com o peso dos anos que atravessaram
Albergando famílias inteiras de avós, pais e filhos.
Casas habitadas por uma população envelhecida,
Aguardando em ânsia pelo seu prometido,
El rei D. Sebastião.

O cinzento dos edifícios confundindo-se
Com a tristeza do céu.
O sofrimento do teu povo em comunhão
Com o vazio do futuro

Este Porto da minha alma,
Pintado pelo comum dos mortais
Como a mais triste cidade vista.
Habita dentro de mim avivando o meu triste existir,
Assistindo-me na minha ausência.

Porto, quem não te conhece
Jamais te poderá amar.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

"Nenhum homem é uma ILHA isolada; cada homem é uma partícula do CONTINENTE, uma parte da TERRA; se um TORRÃO é arrastado para o MAR, a EUROPA fica diminuída, como se fosse PROMONTÓRIO, como se fosse a casa dos teus AMIGOS ou a TUA PRÓPRIA; a MORTE de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do GÉNERO HUMANO. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti." John Dole

Em resposta ao meu amigo Jorge Pimenta, esta passagem que aqui transcrevo pode ser lida na primeira página de POR QUEM OS SINOS DOBRAM de ERNEST HEMINGWAY.
E posso confidenciar que foi esta pequena introdução (grande introdução) que me fez ler este livro, duas vezes.

Existir

Nesse vasto céu as nuvens correm
Ligeiramente vagarosas,
Ao encontro do ponto inexistente
Onde possam esvanecer,
Assomando inesperadamente.

Com os nossos pesados capotes,
Protegemo-nos dessa chuva.
Isolando um cansado corpo,
Do frio que não sente,
Do calor que não existe.

Num ciclo continuado,
De dia e noite,
De morte e vida,
Vamos passando com os nossos corpos robustos
Ilesos às leis desse Universo.
Poderosos perante a Física que rege o mundo.
Brilhando entre o comum do mais simples dos mortais.

Vivendo o disfarce da sobrevivência.
Ocultando a dor do pensamento.
Permanecendo com a dor da consciência,
Encontrando sofrimento na estranha vontade de SER.

Fausto 0,10

Ah Fausto.
Reconheço esse teu brilho no olhar
É idêntico ao que me é reflectido.
O sorriso que esboças nos teus encontros,
É o mesmo dos meus desencontros.

Reproduzo o teu riso irónico
No confronto com os meus mitos.
Traço os mesmos planos bélicos,
Para os confrontos a despoletar.

Ah Fausto.
Esse pesado casacão alberga
O pior de todos os inimigos:
NÓS!

Fausto 0,2

-O sofrimento regressa, e tu Fausto que tencionas fazer? Sim, o que tencionas fazer agora que a duvida continua a aparecer?
Diz-me Fausto, que pensas tu fazer?
-?
-Diz-me Fausto, que resposta vais tu encontrar, agora que o sofrimento chegou de vez e ameaça e vai tornar conta de ti. Assolar os teus pensamentos?
Fausto, diz me tu o que pensas fazer?
-A chuva regressa com essas dúvidas. O céu que outrora estava límpido cobre-se de um cinzento de chumbo. As estrelas apagaram-se com o receio de vislumbrar a morte.
E eu sinto-me vazio, sem este céu iluminado. Tremo, tremo de medo, deste céu de cinzento denso de nuvens.
-Não disfarces Fausto! Não tens o dom da palavra
-Mas tenho o dom da dúvida
-O pavor da resposta. Diz-me Fausto: O QUE É QUE TU VAIS FAZER?
-Ah ah ah ah ah ah ah ah ah!

domingo, 5 de abril de 2009

Encontrei-me numa cidade industrializada,
Abraçada por um emaranhado de auto-estradas,
Entradas e saídas apinhadas de automóveis topo de gama.
Nas ruas não reconheci o meu povo,
Procurei os jardins de outrora,
Para tristemente encontrar os muros de granito cinzento de hoje.

O que vi, não consegui reconhecer.
Aquilo que encontrei, não quis acreditar.

Numa insistência de persistência voltei a ti.
Minha cidade, meu povo,
Não te achei, pedido nessa tecnologia.
Minha cidade, minha infância,
Com dor me recordo daquilo que hoje me trouxe aqui

O meu ideal, o meu sonho.
O meu ser!

Envolvida numa engrenagem eterna,
Num movimento contínuo, que não pode cessar,
De um fim que não se pode justificar,
Na impossibilidade de um fim desejado.

terça-feira, 31 de março de 2009

Vê o mar, poderoso, que se alarga defronte teus olhos.
Observa-o com calma, descobre-o com nervosismo.
A pedra que lanças em breve atingirá o fundo.

No monte onde me encontro não sinto vento.
É inútil a procura do mensageiro,
Pois não existe a desejada conclusão.

O pó entra pelas narinas,
Seu sabor mistura-se no paladar.
A secura da terra invade meu corpo.

Do alto, vasta e ampla é a visão,
Reduzida é a minúcia.
No alto, fortes são os que o atingiram
Descomunal será a queda dos que se despenham.

As leis de Newton não enganam:
Sobe e terás que cair.
Faz e terás que sentir.
Vive e terás que morrer!

quarta-feira, 25 de março de 2009

No silêncio encontrarás a voz.
Do sofrimento contruirás a alegria.
Na desilusão encontrarás o sonho.
Na derrota descobrirás a força.
Alcançado o fim tornarás ao Inicio.


Desculpa amigo, mas ao acabar por responder a ti, também respondi a mim própria.

Haine

Pequeno ser, senhor da desculpa.
Vivendo isolado, prometendo a diferença.
Acenando com a mudança,
Num futuro inexistente.

Pequeno ser inútil, senhor do silêncio.
Construindo a sua Torre de Babel,
Num pacto sem contrato
De um fim anunciado.

Pequeno ser desprezível, senhor do tormento.
Proferindo o habitual discurso
Da mudança anunciada, jamais avistada.
Distribuindo o insensível toque,
Na promessa do inexacto amparo.

Oh! Pequeno ser de sentimentos, asqueroso!
No dia em que tu acordares,
Encontras a solidão como tua companhia.

Algures

Num breve instante de tempo eterno,
O toque fortuito das tuas mãos.
Nunca planeado, mas muito desejado,
Por um, por outro, pelos dois.

Uma mão gélida, percorrendo o corpo inflamado
Esquecido da sua existência.
Que deseja o desencontro
No interdito encontro.

O beijo perdido, nunca recebido
Nesse amor nunca reclamado,
Outrora sentido, no presente confirmado.

A dor que consome, a nós destruindo,
Numa acto ardentemente desejado
Impossível de avistar a dolorosa realidade.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Um grito para dizer quem sou:
A pessoa com quem se cruzam todos os dias,
Indiferentes da diferença,
Conscientes da insignificância.

Um riso disfarçando o que sinto.
Sem paciência para me perder em conversas fúteis,
Mascaradas por enganadores sorrisos.
Abafadas por um caloroso, frio, aperto de mão.

Um aviso para dizer que estou,
Onde a vossa inveja me levou,
Sempre recordando aquilo o que sou.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Porto

Sonhei, sonhei que estava em Nova Iorque, New York, New York! No céu um vagaroso corrupio de densas nuvens cor de chumbo, uma suave brisa cortante que penetra no mais fino dos sobretudos, e transito, muitos automóveis, autocarros, táxis, motorizadas, motos…
Abri os olhos e estava realmente lá. Pessoas passavam por mim, formigas concentradas na sua labuta diária, semanal, mensal anual, e eu estava lá. Diluída na multidão, camuflada por entres as torres de cimento, que cortam o céu imaculado, que o Criador inventou para que a cidade, a minha cidade, poluísse, rasgasse e esventrasse a sua suja virgindade.
Sim eu estou lá, na rápida cidade que se arrasta lentamente ao longo da sua curta existência, New York, New York. Se eu chegar a ti, sei que chegarei a todo o lado.
Procuro viver, fingindo que vivo,
Uma vida que vivo fingindo viver,
Vivendo seguindo uma vida.
Morrendo fingindo que vivo,
Vivendo fingindo morrer.

sexta-feira, 13 de março de 2009

A galope por entre as sombrias florestas,
Envoltos em denso nevoeiro,
Ombros protegidos por uma pesada manta.
Na mão direita as rédeas
Na esquerda, a nervosa espada.

Olhos inchados de noites sem sono,
Vividas num incessante medo da emboscada
Olhos cansados de procurar o inimigo invisível,
Escondido nos patamares do esquecimento.

A galope seguimos, por entre essas florestas,
No meio de pedras soltas,
Descendo as subidas vertiginosas,
Subindo as descidas íngremes.
Entre riachos secos imaginários.

A galope seguimos, por aquelas florestas,
Ansiando o odor ferroso do sangue.
Desejando o cheiro da carne putrefacta.
Senhores da Vida, Escravos da Morte.

Os profetas da verdade,
Igualmente os loucos da sociedade!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Sucedem-se os teus dias, iguais a muitos outros.
O relógio não pára. Tic-tac, tac-tic.
Acordas depois de uma noite de sono
Deitas-te depois de um dia de árduo trabalho.

No aconchego frio dos lençóis
Vais respirando calmamente,
Mas o dióxido de carbono não é expelido
Nem tão pouco o oxigénio inspirado.
Acordas, com falta de ar,
Encharcada num suor que não te pertence.
Procuras uma imagem que não vislumbras.
Rendes-te ao vazio da tua existência

Procuras o aconchego de uma mão,
Caindo num sono ténue.
Receias o monstro.
Na mão esquerda a lança,
Na direita o escudo.
Um pé em solo firme, outro em revoltas águas.
Vislumbras o monstro nos teus sonhos, tornados pesadelos.
O acordar, o repetir da história vivenciada.

Numa última réstia de força,
Ganhas arrojo, fintando o teu adversário:
O monstro que vive, cercando os teus passos,
Rondando a tua vida,
Sussurrando calor nas noites gélidas,
Soprando uma brisa nas noites abrasadoras.
Ergue-se perante ti, o derradeiro adversário.
Entre a decisão e o acto da matança:
O monstro, és tu.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Percebes, tu??

Fausto 0,8

Raiva.
Raiva é isso que sentes.
Algo que te consome interiormente.
Queima as tuas entranhas,
Rasga o teu ventre,
Libertando o cheiro de carne putrefacta.

Ódio.
Ódio é isso que carregas.
Dentro do teu ineficaz coração,
Bloqueia o teu cérebro.
Limita as tuas acções,
Bloqueando as tuas palavras.

Dor.
Dor é isso que trarás.
Eternamente em ti, e para ti.
A desculpa do que fizeste.
O arrependimento do que deverias ter feito.
O futuro que escolheste.

Sentir.
Sentir a alma queimada por um fogo gélido.
Que te destruirá por dentro.
Iludindo o comum dos mortais por fora.
O sorriso que disfarça o desespero.
A palavra que anseia pelo silêncio.

O fim?
Ou o inicio?

domingo, 1 de março de 2009

"Nunca ninguém viaja tão alto como aquele que não sabe para onde vai" Cromwell

Fausto 0,7

Fausto, todos os teus ossos estão frágeis.
Segues o teu trilho cercado por uma incerteza sempre certa.
Nas pequenas pausas curas as tuas nódoas negras.
Fazes o teu frágil físico forte, e a tua mente impenetrável.
Não reconheces o presente, ignoras o futuro.
A DUVÍDA está lá. Sempre. Sempre.
Um martelo pneumático que te massacra o pensar.
Um medo. O MEDO.

Prossegues, enganando os amigos erróneos, numa coragem mentirosa.
Enfrentando o teu medo, vivendo no medo.
Rapidamente tombas e numa falsificada agilidade,
Ergues o teu corpo estragado, auxiliado por uma desconhecida perseverança.

E que vais fazer tu, Fausto?
Quando a força que nunca tiveste acabar?
Quando na tua batalha ficares sem acção, imóvel, com o teu medo?
O TEU MEDO; OS NOSSOS MEDOS.

Que vamos fazer Fausto,
Quando a realidade se tornar a nossa realidade?
Quando o fim se precipitar sobre nós?

Perdemos a força? Encaramos a amarga realidade?
Escolho o fim? Ou escolho o início?

Fausto 0,1 - Quantas?

Quantas vezes?

Quantas vezes caí nas teias da sedução inexistente.
Construindo histórias assentes numa ilusão efémera,
Desbastando incorruptíveis corações apaixonados.
Quantas, quantas vezes!
Quantas vezes prometi amar
Desconhecendo o meu par.
Desejei desbravar um sentimento de amor, ódio e caos.
Sim caos, numa inexistência de sonho.
Num pesadelo inacabado.
Quantas vezes amei, desejei, senti, amei, desejei, construí, amei, desejei, entreguei-me? …
E quantas foram as vezes que me enganei, que errei, que me enganei, que errei?...
E quantas foram as vezes que de novo tudo comecei…
A amar.
A desejar.
E quantas foram as vezes que errei?
E…
Quantas…
Foram…
As…
Vezes…
Que…

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Fausto 0,0

Oh Fausto!

Deambulando sob um céu azul chumbo,
Procurando uma breve fé num rosto desconhecido.
Fintando gotas e gotas de água gélida que segue o seu curso
Descobrindo fé no mais sujo dos esgotos,
E pecado na mais pura virgem, a pergunta,
A persistente dúvida da incessante busca nasce.
Nasce, nasce rasgando o ventre da sua mãe.
Destruindo as suas mais puras entranhas, da mais linda concessão.
Nasce, nasce e com ela o mais firme grito se ouve,
Rompe a barreira do som, e os limites do espaço.
Um abrir suave, dos mais quentes lábios, cria a mais nobre e demoníaca
PERGUNTA!

Oh Fausto!
Quantas vezes entreguei a minha confusa alma ao mais tentador dos demónios?
Quantas vezes construí a minha fé, falsa, e quantas vezes a deixei cair sobre o solo húmido?
Quantas vezes busquei aquilo que nunca consegui reconhecer e nunca tentei entender?

Oh Fausto!
As nossas dúvidas foram a nossa tentação.
Oh Fausto!
As nossas opções foram o inerte existir!
Oh Fausto as nossas decisões foram a nossa morte!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

2,3

Entre sorrisos que escondem censura
Calorosos apertos de mão encerrando o frio do árctico
Fortes abraços que encerram um punhal nas costas cravado
Vamos vivendo estes dias de ócio.

E sorrimos na multidão, sem pudor
Deixamos escapar uns “bons dias” ou um “até amanhã”
Continuamos mergulhados entre colegas
E numa honesta alegria partilhamos o nosso verdadeiro ser.

Continua a guerra silenciosa,
Na ausência de todo o arsenal bélico.
Travamos uma batalha num campo minado de traições.
À vista desarmada em trincheiras inexistentes.

Nossos ossos cansados, que em breve sucumbirão em pó,
Carregam os preciosos presentes
Para um menino que muito em breve será senhor,
Um senhor que virará um ditador

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Duvida

Entras na minha vida repentinamente,
Sem licença pedir, com suaves passos firmes.
Constrois em meu coração aquilo que chamas de lar.
E calmamente vais vivendo a fogosidade dos dias.

Encontro-te no meu intimo, querendo tirar-te de lá.
Quando a ti me habituo,
Sais sem hesitar.

14.23

Sinto ainda, a tua respiração
Aquecendo meu pescoço.
O toque forte das tuas mãos
Percorrendo todo o meu corpo,
Teu corpo.

Inspiro e sinto o teu odor
Que me enche as narinas.
Relembro o teu corpo, meu corpo,
Encostado ao meu.

Toque, desejo.

Espero, desespero.
Sinto. Quero.
Não encontro.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Visitei aquela estranha figura familiar,
Semanas antes de a ultima lufada de ar,
Repleta de oxigénio, penetrar nos seus fracos pulmões,
Cansados de uma vida inteira de estranha monotonia.

Entre memórias e lembranças, reconheci a sua fisionomia.
Aquela figura, outrora imponente,
Repousava num cadeirão de braços, de estilo colonial.
Os pés erguidos, apoiados num pequeno banco,
Que tremeria ao conhecer o seu Ser.
Um pequeno cobertor tapava as suas pernas
Que tantas vezes te afastaram de nós.

Contemplei vezes sem conta aquela feição,
De alguém perdido no tempo,
Que esqueceu o espaço, que desencontrou o seu rumo,
Sem nunca o saber.
Invadida por um bizarro sentimento de compaixão
Relembrei o passado, o distante,
Não o encontrei lá, procurei uma vez mais.
A sua ausência é nota dominante.

Agora que te enterro, choro umas estranhas lágrimas.
Não sinto a dor do luto,
O sofrimento da eterna perda.
Choro, apenas choro, um choro sem dor
Porque não tenho lembranças a recordar,
Um nada.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Para: Jorge Pimenta

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

EU

Vives, passando ilesa pelos dias.
Dias que passam iguais, sem diferenças a anotar.
Anotas no pensamento a dor que te faz sofrer,
Sofrendo em silêncio pela eterna busca,
Buscando aquilo que não tens,
Tendo aquilo que não desejas.

Desejas acabar o que começaste
Começando com o que nunca encontraste.
Encontras aquilo que nunca esperavas
Esperando no fim começar.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Anti

Encontrei-me sem paciência,
Entre os risos enganadores, falsificados afectos,
Cumprimentos proferidos sem significado,
Encontrei-me sem paciência.
Desconfio do falso amigo, que está presente nos breves instantes jocosos,
Das palavras de elogio, do gesto de carinho.
Encontrei-me sem paciência.

Não me fales, que eu não te falo.
Não me confortes, que não necessito de um abrigo.
Não me fales, que eu não te minto,
Não me perguntes, que com verdade eu te respondo.
Não disfarces, porque não sou da arte do falseio.

Não te cruzes comigo, porque eu não te odeio.
Para já.

Desculpa-me, desculpo-te!

Desculpa não me ter salvo.
Perdi-me entre sentimentos povoados de emoções.
Aninhei entre trincheiras de ódio indignado.

Desculpa não te ter ouvido,
Nesse teu discurso surdo de dor,
Numa encenação de um gesto imóvel de doçura.

Desculpo-te pela tua presença ausente,
Disfarçada na minha ausência sempre presente.

Relembra o que em tempos possuíste,
Sem nunca perceberes o que detinhas.
Esqueço o que sempre soube que não fruía
Deliciando-me com ilusão.
Não sei da densa floresta
Para atravessar a galope com o meu cavalo.
Poli o meu escudo, carrego a minha espada afiada
Tendões e músculos protegidos
De um inimigo que não consigo encontrar.

Não encontro o campo de papoilas,
Para onde os meus fieis devo guiar,
Em busca dos desleais que devo de cercar.

Sigo a galope à procura da arena
Que teimo vislumbrar, sem meus olhos nunca a avistar.

Guerreiro bélico em busca de uma guerra,
À procura de um Senhor a quem obedecer.
Mas sei que quando a espada descansar
E meu corpo depuser, a verdadeira batalha vou travar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

III

Vezes sem conta percorro as ruas da cidade.
A minha cidade, que visito uma e outra vez.
Granito frio, que se eleva em altas casas,
Vazias de habitantes, repletas de memórias.
Os muros cedem melancolicamente ao passar do tempo,
Um relógio lento de segundos que correm ávidos
Uma folha de calendário esquecida de virar.

Os tristes vazios edifícios são alegrados por grafitis,
Alguns dignos de galeria de arte,
Outros apenas merecem um olhar. Distracção!

Caminho lentamente por esta minha cidade.
As pessoas que por mim passam,
Seguem o seu caminho mecânico, mecânico, sem pensar.
Apresso o passo por entre a multidão desconhecida
Olho o céu, pesadas nuvens cinzentas correm ligeiras
Misturadas com o fumo dos escapes do carro.

Corro, também imitando os meus companheiros mudos de viagem,
Rua à esquerda, à direita, em frente
Corro sem destino, de encontro ao local marcado.

A chuva começa a cair, pequenas gotas de água.
Seguidas por pesadas e grossas gotas de água,
Que caem numa enxurrada sem fim.
Paro aí, nesse local sem nome, que prefiro esquecer.
No engano de um raio de Sol que toca a minha face.
De um amor que existiu, que a esta conhecida solidão me levou.

Seguirei o meu rumo, acompanhada de um NADA!
Na solidão em que o ser mergulha
Encontra a força para atravessar o desconhecido.
Após tantos risos, amizades e amor
Será o vazio teu melhor amigo e a lembrança, o traidor.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Um grande amigo e poeta:
http://circum-viagem.blogspot.com/

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

NIN

II

Não sou forte.
Quando me observo no espelho
A imagem devolvida não me traz beleza
Não encontro harmonia na montra que me reflecte.
Um dia passa, logo a seguir, um outro acaba por passar,
E assim semanas, meses e anos.

Olho me no espelho
Gasto de tantas perguntas, tantos porquês?
Não me reconheço fisicamente,
Não me consigo admirar visualmente.

Olho me no meu intimo
Naquele lugar inacessível ao olhar dos outros
No preciso local esquecido pela Humanidade
Reconheço-me.
Encontro-me, e afinal daqui nunca me perdi.

Um bicho estranhamente forte.
Nunca quebrado pelo peso exterior.
Nunca sucumbirá aos preconceitos.

Um bicho estranho, um estranho bicho
Em paz com o seu físico
Em luta com o seu espírito
Mais perto de atingir a paz
Alcançando assim a dor do reconhecimento.

I

Vivemos entre muros.
Altos, cinzentos, e frios muros.
Erguidos em verdes prados férteis,
Salpicados de tímidas fortes flores silvestres.
Alicerces no quente coração da crusta terrestre.
Altos, e cada vez mais altos muros,
Construídos pedra sobre pedra.
Pedra sobre pedra que teimará sempre em não cair.

Da programada concepção,
Do acto mecânico de procriação,
Uma criança verá o negro céu.
Ouvirá memórias de um Sol perdido no espaço.
Viverá entre os muros.
Altos, cinzentos, e gelados muros.

Mas no coração do ser,
Do verdadeiro SER HUMANO
Um mundo vive encerrado.
Um sonho, que antes foi,
Um desejo de voltar a ser.

Levanta-te, pequena grande criança.
Sonha, pensa, faz.
Na força do teu acto,
No manejar da tua espada,
O sangue derramado, o sangue que ferve,
No limiar da dor, toldada pelos sentidos,
A criança sou eu.