os cavalos arrastam-me pela cidade
as cordas atravessam-me a pele
e o meu corpo a terra
o sangue escorre pela armadura
para encontrar o seu lugar no pó
que piso, que me calca, que se aloja no peito
os que olham férvidos sorriem
e escoam lava e lama pela boca
malditos, adivinho-lhes os dentes putrefactos
e o cheiro nauseabundo das entranhas
permito as cicatrizes das estradas
não os dentes nem as garras dos malditos
amanhã saio para dar uma volta de bicicleta
entre as escamas da sua pele
Laura Alberto / João Miguel Ferreira
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
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