XXII
tenho uma cicatriz no joelho esquerdo. por mais que tente enfeita a rótula esquerda, marca o joelho esquerdo. mas não me dói.
tenho uma queimadura na mão esquerda. não quero que daí saia, mas saiu. e dói imenso.
encher com água, a banheira suja, do quarto frio, na mansão abandonada.
percorrer, com os pés descalços o mármore bolorento, dar um pontapé em qualquer coisa, acender um cigarro, mergulhar naquela água, quentíssima, quente, fria, gelada.
esperar a serpente que entra pela janela entreaberta.
Fotografia de Jorge Molder, Um dia Cinzento
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
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maravilhoso,
ResponderEliminarpoema maravilhoso
...
(pé ante pé
sentindo texturas)
beijo carinhoso.
arrepiante espera,
ResponderEliminarbeijo
ritual que nos banha com sensações geladas, tépidas, ardentes... e a espera faz-se nas linhas que nem o tempo sabe como apagar...
ResponderEliminarbeijos!
Há marcas que permanecem, enquanto a espera nos consome... E nós, tal como a água, vamos ficando gelados...
ResponderEliminarBelíssimo poema! Gostei imenso...