Viagem
hoje, ou talvez amanhã,
ou mesmo depois de amanhã, parto
de peito vazio, gelado
nenhuma gota de orvalho
mereceu o calor das tuas mãos
enquanto rolava granito fora
[amanhã, ou talvez mesmo hoje]
apodreceram os anturios
esguios em jarras de vidro sujo, baço
ninguém soube do seu odor
[talvez depois de amanhã, ou amanhã]
fecham-se as gavetas
desabitadas
entregues ao esquecimento, ao bolor
[hoje, ou mesmo hoje]
resta a palidez
para carregar, por aí
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
sereno transe
ResponderEliminarum uivo
...
carinhoso beijo.
Mas o seu Viagem, Laura, é de tom elevado, simbólico. Já o meu poeminha é uma alusão afetiva à minha intenção de ir para um ponto do Nordeste do Brasil. Lá, na linguagem popular,muitos usam o terceira pessoa do imperfeito do subjuntivo no lugar da segunda do pretérito perfeito do indicativo: fica "Tu fizesse" em vez de 'fizeste', daí surgiu a forma deliciosa "visse?" com determinada entonação.
ResponderEliminarBem, pelo menos essa é a minha interpretação, não sei se correta... Rs.
Viagem íntima, o seu poema.
Beijo.
Minha cara Laura, o importante é hoje, amanhã e sempre termos a vontade e a coragem de mudarmos, pois tal feita pode ser extremamente difícil. Se não der certo, devemos ter a hombridade de voltarmos e recomeçarmos tudo novamente.
ResponderEliminarAdorei o blog e adorei os textos!
Quando tiver um tempo, dê uma passada no “Que letra é”, pois ficaria muito honrado pela sua visita. Se gostar, siga-nos!
http://queletra.blogspot.com/
Parabéns pelo trabalho e estou te seguindo!
Atenciosamente. Adriano MB.
essa tua viagem me deixa partido, a palidez parece sombra a nos vigiar,
ResponderEliminarbeijo
Uma bela viagem-poema, Laura...e eu fiquei, sei lá por quê, esperando entre o hoje, o amanhã, o depois de amanhã...o NUNCA... Senti pulsante a presença do nunca. Um não ir. Um já ter ido, nessa viagem imaginária. Mas o nunca apareceu pra mim, vermelho, entre seus versos. Um poema e tanto!
ResponderEliminarBeijos,
este é daqueles que tens de recordar como imortais. poema perfeito!
ResponderEliminarpara ler com o manifesto anti-dantas ao lado :)
beijo!