entram cavalos pela janela. não me lembro sequer de um dia a ter visto aberta ou fechada, não me lembro de alguma vez a ter visto assim: encoberta pelas portadas de madeira. as mesmas que o tempo tratou de arrancar a tinta, a cor.
sai o fumo invisível pela porta, pela sala, pelas escadas, pela porta que dá para uma rua: aquela onde não corri, não caí, não fiquei à espera que se abrisse a tal porta, debaixo de uma gelada chuva.
mudo os tacos do quarto, um puzzle com várias soluções, mas sobra sempre cimento, cotão, cimento e mais cotão.
abro e fecho os armários, as gavetas, os guarda-vestidos sem vestidos, sem memória.
recolho o que não conheço, não reconheço. tenho um nome, um nome que nunca ouvi, que nunca ouvirei mais, mas que existiu algures entre os dias do calendário.
na verdade, o que entra é frio: a saudade de saber sentir saudade

Fotografia de Pedro Polónio, http://club-silencio.blogspot.com/
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