Corpo na berma da estrada
toco-lhe com a biqueira da bota suja de terra,
não se move
sinto o musculo esponjoso que se enterra até ao osso
estendido, abandonado
o tempo trouxe o esquecimento
e as chuvas lavaram os vermes
toco-lhe, com o dedo sujo de ar,
sinto as camadas de pele
desintegrarem-se entre a unha e a carne
o sangue coagulado
o esqueleto quebrado, escondido
por carne podre, carne seca
viro-lhe o tronco,
num emaranhado de cabelos imundos,
descubro o meu rosto
nos lábios que beijam o alcatrão
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
não tenho máquina para comentar em objectiva de grande alcance esta verdadeira preciosidade... muller, mão morta, béla lugosi, charles manson, maiakowski... todos se juntaram para ver a quem pertencia o corpo...
ResponderEliminar- é meu. - reclama o alcatrão...
e os carros passaram a voar silenciosamente...
beijos!