Carrasco
arrasta as botas pelas pedras da calçada
o tempo esquece-se entre as linhas de terra
dedos torcidos, frios
arranhados pelas meias de lã
sacode os braços, num movimento descoordenado
agita a lâmina de aço, rasga o ar humido
são as ruas que crescem
sobre as solas, até a linha do mar
range os dentes, range os dentes
um fio de sangue escorre pelo canto da boca
[psst, psst]
é a noite que cai pelos ombros
entra pelo olhos raiados de raiva
[ei, psst, psst
estou aqui]
Marcantonio, Melancolia 43, Técnica Mista, 85×150 cm, Rio de Janeiro, 2007
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
arrepiante, amiga.
ResponderEliminarconsigo ver a lâmina da guilhotina a exibir o sexo numa pose altiva e simultaneamente sedutora...