XXXIV
entregue ao bolor que desenha nas paredes
figuras imperceptíveis
que me assaltam as horas
ouço a cidade que se estende fora dos altos muros
onde guardo o pouco que resta
os homens urinam nos cantos
entre alvenarias de casas abandonadas
procuram as putas nos becos
sossegados, empestados de dejetos de gatos
e satisfazem os seus desejos de carne
é noite, assim o diz
a luz pálida dos candeeiros
a chuva miudinha que cai sem parar
[os tolos, só os tolos se molham]
e os automóveis no seu regresso a casa
fogem os pássaros da surdez da cidade
em voos indecisos
até ao horizonte, sem meta
o ultimo cão roí um osso imundo
e tomba envenenado
o manto negro cobre a cidade
invade a janela do meu quarto, deixo
os vagabundos, as putas, os chulos, os mafiosos
ganharem o seu lugar em toda a casa
inundada com os seus odores pestilentos
nada sobrevive em mim
nada se vislumbra em mim
restam os renegados
uma côdea de pão para disfarçar
uma unha imunda
a última gota de água perdida no chão
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
Hei de ficar lendo esse poema
ResponderEliminarpor um longo tempo
...
beijo carinhoso,
Laura
...
o poema é denso, poeta.
ResponderEliminardensodensodenso.
ah estes teus poemas, ah
ResponderEliminarbeijo
O que sobrevive em ti é essa suprema capacidade de vislumbrar os submundos que te rodeiam e transformá-los em
ResponderEliminarpoesia. Ou será anti-poesia? Perscrutar, ouvir, sentir e
abstrair-se de tudo isso, é tarefa para poucos, muito poucos, pois o risco de contaminação é imenso.
um beijo
faça de conta que: aqui há uma mulher que chega pra se embriagar. ela tb faz poemas, quase sujos, quase tristes. ela puxa a cadeira e enche mais o copo. A garrafa está na mesa. no rótulo, uma descrição " quanto mais L.A melhor "
ResponderEliminarbj grande, minha poetaça querida
Bom dia!
ResponderEliminarGostei muito deste poema!
Aproveito para simplesmente desejar-lhe
Feliz Natal.
Saudações poéticas!
tantas destas cidades a apodrecer dentro de nós...
ResponderEliminarabraço, laura!
Te deseo unas felices fiestas llenas de alegría.
ResponderEliminarBuen fin de semana,
¡Feliz Navidad!
un abrazo.
Poema intenso, triste, mas belo. Que a poesia possa se alinhar a esperança!
ResponderEliminarTudo muito triste...
ResponderEliminarE a música, sublinhando muito bem o poema, fez-me lembrar um circo barato.
Em qualquer caso, o teu poema é excelente e a música é soberba.
Gostei muito deste teu post.
Laura, querida amiga, desejo que tenhas um Feliz Natal, extensivo aos que te são mais queridos.
Beijo.
Um lindo poema, Laura!
ResponderEliminarAbraço e parabéns!
escrevi uma "carta" pra vc, mas o endereço do seu e-mail está no FB, nas nossas conversas, minha página entrou num caos absoluto, não consigo acesso pra nada, assim, não tenho como enviar o que escrevi. Se puder me mande o endereço pelo blog "Beco" ou me mande um e-mail, msm que seja vazio, apenas pra que eu possa ter como mandar.
ResponderEliminarEspero que esteja tudo caminhando bem. Saudade!
bj nos dois
ah... é necessário falar aqui?!
ResponderEliminareu sinto tudo e tanto!
e a música regeu-me!
beijo, querida... belo renovar de tempo! que dezembro não deixe rastro aziago pra janeiro farejar!
Você é poeta com P maiúsculo!
ResponderEliminarA cidade assim mete medo...
ResponderEliminarA música chega a ser mais bela...
Laura,
ResponderEliminarQue 2013 envergue sempre roupagens de esperança!
Beijo :)