com o tempo
o seu grosso escorrer pelas paredes
fui-me desfazendo
dos objectos inúteis que acumulei
em estantes, em baús
pelos cantos da sala
na penumbra dos corredores
ainda ouvi os seus ecos
roucos, as vozes geladas
penetrando a solidão da noite
um-a-um
dois-a-dois
todos se acumularam por fim na lixeira
regressei para uma casa vazia
e hoje colecciono as memórias dos outros
afogando a minha própria em quartos de hotel
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
todas as memórias são de outrem, aquelas em que somos coadjuvantes sem narrador,
ResponderEliminarbeijo
Desfazer-se de é reconstruir-se... O que dizes sempre espelha-me.
ResponderEliminarBeijos, Laura
Nos desfazermos de objetos é facíl, difícil é desentrelaçá-los dos sentimentos adquiridos.
ResponderEliminaro desapego é o caminho para liberdade, mas ainda estamos longe disto.
ResponderEliminarbj, poetaça mega-super-querida
Acho que já não precisavas desses objectos, a casa vazia é uma oportunidade de encontrares outros...que se colem melhor a ti...!
ResponderEliminarBeijo
quanto de nós se extingue no silêncio desses corredores a que chamamos memória?
ResponderEliminarabraço!
Laurinha,
ResponderEliminarquartos de hotel, quartos de passagem, cenários efêmeros... e quantos deles existem dentro de nós, verdade?
Beijos com saudades!
os objetos vão-se e levam nosso cheiro
ResponderEliminare nos deixam também o cheiro deles
na nossa memória e nas memórias
dos outros
...
Que belíssimo poema!
beijo carinhoso,
Laura.
e vamos nos guardando...
ResponderEliminarbeijo, querida!