Paragem
tenho:
a cara fria apoiada na palma das mãos e é Verão,
os cotovelos apoiados nas coxas, a face apoiada nas coxas, o corpo apoiado no tempo
o osso do cotovelo enterra-se na carne,
o sangue pára
adivinha-se uma nódoa negra, duas: direita, esquerda
observo os pés tortos
que desenham um triangulo na terra de cor esquecida
e de novo o vento, seco
longe, longe do olhar o pó assome,
corre pelo alcatrão a ferver
estaca-se no meu corpo
sinto os pés que desaparecem
as pernas adormecidas,
toda eu sou o cansaço, à espera
Fotografia de Robert Frank, Landscape, Peru,1948
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
o tédio angustiante que mina o corpo e amolece as vontades atirado, sem remissão, para uma recta de perder de vista do peru. ironia maior!
ResponderEliminarbeijinho, amiga!