I
talvez ainda devore o pão
amassado no suor do meu rosto
temendo o pó que me assalta a sepultura
II
teimo em ordenar aos bichos
novas regras
organizando-os a meu bel-prazer
III
ainda assim resta a lembrança
do jardim, dos céus e da terra
da chuva impossível que fez brotar as sementes
IV
longe estão já
os tempos do diluvio
quarenta dias e também quarenta noites
V
os que se salvaram
são os heróis prometidos
que carregam punhais escondidos
VI
geraram-se filhos, geraram-se filhas
e eis que fomos corrompidos
numa terra tingida de sangue
VII
duzentos e cinco anos
com as mesmas palavras
atravessadas na garganta
VIII
e toda a eternidade
com o estranhar
do dialeto do vizinho
IX
assim me marcas: homicídio não consumado
assim me desculpas: mas os outros não
assim me condenas: entregue a mim próprio
X
apenas quis perceber o teu lugar
apenas quis saber o que pensar
mas o teu rosto não assome no horizonte
Fotografia Pedro Polónio, http://club-silencio.blogspot.pt/
Tocante, assim como a fotografia!
ResponderEliminarmesmo que as chuvas lavassem os solos
ResponderEliminare o sangue brotasse em folhas de alecrim
o homem ficaria
condenado a si
e à memória
Que vontade de comer essa poesia, pra ficar entranhada.
ResponderEliminarTodas as verdades e o perder-se que cabe a cada olhar que a gente ganha.
Lindo :D
Laura, tou de espaço novo!
http://ape-trechos.blogspot.com.br/
a fogueira dos rostos que se não divisam no horizonte, dez mandamentos de são-esquecer nesta terra queimada e profana para poder semear as raízes do que salva: rostos humanos que eternizam, desses que geram e são gerados, numa dialética sem dilúvios, punhais escondidos, ou heróis prometidos.
ResponderEliminarleio-te dez vezes e de todas elas há cicatrizes que [ainda ]estalam [n]a pele.
beijo, laura!
o jogo da dialética e os seus contrários: a tudo se serve para nenhum fim,
ResponderEliminarbeijo
Referes-te às invasões francesas?
ResponderEliminarEmbora tétrico, gostei imenso do poema.
As tuas imagens poéticas são excelentes.
Laura, tem um bom domingo e uma boa semana.
Beijo.
Laurinha,querida
ResponderEliminarPoesia que sempre me impacta, e hoje estou gripada e febril, então o soco parece mais intenso! Mas é um soco bom.
Parabéns pelas tuas letras, sempre.
Beijos com um saudadão de ti!
PS.: Pretendo fazer uma postagem em março, ou abril e colocar como incipt um fragmento de poema teu, citando tua autoria, claro. Espero que não tenha problema para ti. Tudo bem? É que tua poesia é tão imensa que quero te citar lá na minha casa virtual.
Mais beijos!
Longe os tempos do dilúvio, talvez, mas as marcas da tempestade perduram...
ResponderEliminarMais um poema excelente, parabéns!
Beijos
A arte da vida tem que se lhe diga, mas tu teimas em entendê-la, libertando-te de viscosidades diversas. Ainda bem.
ResponderEliminarBeijo :)
Querida Laura
ResponderEliminarMais um estrondo de poema. Vejo o ribombar do dilúvio que ainda não terminou.
Beijos.