I
engorda o rebanho
deglutindo
o pasto viciado
II
descubro hoje
que a minha roupa negra
já não me serve
III
avança a cerca
o gado em fúria
ameaçado pelo cão embalsamado
IV
esqueço-me de dar corda
aos dias
o despertador não para de tocar no bolso
V
afia a faca
mostra o dente
o falso pastor
VI
a face do culpado
de mãos ensanguentadas
é o meu próprio rosto
VII
do cimo da montanha
o brilhante salvador
o livro sagrado na marca:
VIII
eu te
perdoo
os outros não
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
Já gosto do poder da síntese....
ResponderEliminarBeijo, Laura*
as palavras a aconchegar o tambor, à espera da hora em que os dias adormeçam no colo do tempo, enquanto a contagem decrescente acelera os passos até à onomatopeia final: eu te perdoo; os outros... talvez não.
ResponderEliminarbeijo, laura!
Um duelo muito interessante!
ResponderEliminarBeijo
Laurinha,
ResponderEliminarnas entrelinhas um lindo espaço de eu, dos outros, e de si mesmo.
Lindos fragmentos!
Beijão com saudades de ti!
Genial!
ResponderEliminarBeijo
O não perdão é o fim de toda a vida. Morte e ignorância. Mas se eu te perdoo é quanto basta, sobretudo o eu a si mesmo.
ResponderEliminarUm duelo que me encanta
ResponderEliminarBeijos.