Deixei ficar a roupa tombada ao
pé da cama. Uma rodilha de trapos desbotados e gastos. Não fechei a torneira.
Teimei em não destapar o ralo da banheira. Mantive os estores fechados, as
cortinas corridas.
Não vi, confesso, não existem
reflexos meus nas ainda brilhantes superfícies esquecidas pela casa.
Saí, penso que saí, ouço o som da
porta a abrir, o som da porta a fechar, o ranger dos dentes de metal na
fechadura, no cansaço da mente. Devo de ter saído de casa, relembro passo a
passo o ritual.
Cheia de terra é a estrada que me
enfrenta, sem piedade. As suas curvas sinuosas perdem-se sob o meu olhar: o
primeiro passo e paro. À espera.
Fotografia do filme Naked City, de 1948, realizado por Julis Dassin
Li (gosto sempre de te ler) e lembrei-me duma frase de Clarice Lispector:
ResponderEliminar"Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."
Beijo :)
e tudo é espera e passo no caminho,
ResponderEliminarbeijo
é esse lirismo denso
ResponderEliminarfeito chuva forte
sobre pétalas
que adoro
...
belo poema!
beijo carinhoso.
Uma inundação, foi o que provocaste.
ResponderEliminarEspero que de boas coisas...
Beijos, querida amiga.
Laurinha,
ResponderEliminaressas estradas sinuosas...
será mais difícil acelerar ou frear?
Beijos!
- como sabe, gosto muito de divagar sobre o que penso a respeito dos seus textos. e, de alguma forma, a parte "Cheia de terra é a estrada que me enfrenta, sem piedade. As suas curvas sinuosas perdem-se sob o meu olhar: o primeiro passo e paro. À espera." me remeteu a reflexão de que, de fato, não existe inércia, mesmo quando estamos absortos em nós mesemos, não existe inércia.
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