Teci uma fina manta de sonhos,
Sob a luz das estrelas.
Dos confins do espaço voaram mil pássaros,
Carregando em seus bicos fios de utopia.
Chegadas do centro da terra pequenas toupeiras,
Arrastavam as pedras das fundações.
Transportada pela vontade do vento,
Chegava a sua força, que nela entrancei.
Coloquei a manta inacabada ao ar da noite,
Para que o orvalho a tocasse,
Desejando assim que até ti me carregasse.
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Irónico
A pior invenção do homem: as letras!
Teimosamente organizadas num abecedário.
Meticulosamente percorrido do A ao Z, ou do Z ao A.
Acabamos prisioneiros de palavras sem sentido.
A pior invenção do homem, essa tal de poesia.
Articulando o sentir, mediante figuras de estilo,
Perdidas entre gramática religiosa,
Vamos disfarçando a ilusão do querer.
Teimosamente organizadas num abecedário.
Meticulosamente percorrido do A ao Z, ou do Z ao A.
Acabamos prisioneiros de palavras sem sentido.
A pior invenção do homem, essa tal de poesia.
Articulando o sentir, mediante figuras de estilo,
Perdidas entre gramática religiosa,
Vamos disfarçando a ilusão do querer.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Avenida dos Aliados
Sentei-me num banco de jardim,
Esperando calmamente que o destino se cumprisse.
Tocada por um céu de azul,
Via as brancas nuvens que passam.
E como elas andam lestas,
Na fadiga dos dias.
E como elas param,
Aguardando um qualquer epílogo.
Levantei-me descansando,
Percorrendo gastas pedras de basalto,
Ao som de existentes gaivotas imaginárias,
Cantando a lenda do pescador.
E como elas voam,
Fugidias ao tempo
E como elas permanecem,
Ao longo dos séculos.
Vi a tua estátua de mármore,
Nua no vazio de uma cidade,
Que me lembrou que até as pedras mudam,
Mesmo ante um relógio parado.
Esperando calmamente que o destino se cumprisse.
Tocada por um céu de azul,
Via as brancas nuvens que passam.
E como elas andam lestas,
Na fadiga dos dias.
E como elas param,
Aguardando um qualquer epílogo.
Levantei-me descansando,
Percorrendo gastas pedras de basalto,
Ao som de existentes gaivotas imaginárias,
Cantando a lenda do pescador.
E como elas voam,
Fugidias ao tempo
E como elas permanecem,
Ao longo dos séculos.
Vi a tua estátua de mármore,
Nua no vazio de uma cidade,
Que me lembrou que até as pedras mudam,
Mesmo ante um relógio parado.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
A+
O meu sangue é vermelho.
Quando jorra em fúria de dentro de mim,
Qual toiro enraivecido em luta, numa arena desigual.
O meu sangue é azul,
Quando dorme em sonhos,
Qual mar brando dissolvendo as ilhas.
O meu sangue é verde.
Quando inspira o ar em golfadas,
Qual campo esquecido de cultivar.
O meu sangue é amarelo,
Quando se esquece de duvidar,
Qual sol distraído no acerco da bruma.
O meu sangue é preto,
Quando se esquece de pensar.
Quando jorra em fúria de dentro de mim,
Qual toiro enraivecido em luta, numa arena desigual.
O meu sangue é azul,
Quando dorme em sonhos,
Qual mar brando dissolvendo as ilhas.
O meu sangue é verde.
Quando inspira o ar em golfadas,
Qual campo esquecido de cultivar.
O meu sangue é amarelo,
Quando se esquece de duvidar,
Qual sol distraído no acerco da bruma.
O meu sangue é preto,
Quando se esquece de pensar.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Tinta
Por fim chegava a noite.
E com ela o silêncio das palavras.
A mente era agora povoada de ínfimos
Bater de asas, de pássaro noctívagos,
Piando ao encontro das suas vitimas.
Com a corda do relógio,
Mistura-se o som de um mar qualquer.
Um mar distante, rasgando as rochas,
Esconjurando o marinheiro,
Com suas vestes escuras.
Caía a noite soturna,
Entre paredes amorfas,
Enquanto se aproximavam
Os longos passos da solidão.
Decidiu escrever, com toda a cor das palavras,
O sonho de quem quer viver.
Adormeceu no fim da noite,
Sobre borrões de tinta roxa.
E com ela o silêncio das palavras.
A mente era agora povoada de ínfimos
Bater de asas, de pássaro noctívagos,
Piando ao encontro das suas vitimas.
Com a corda do relógio,
Mistura-se o som de um mar qualquer.
Um mar distante, rasgando as rochas,
Esconjurando o marinheiro,
Com suas vestes escuras.
Caía a noite soturna,
Entre paredes amorfas,
Enquanto se aproximavam
Os longos passos da solidão.
Decidiu escrever, com toda a cor das palavras,
O sonho de quem quer viver.
Adormeceu no fim da noite,
Sobre borrões de tinta roxa.
sábado, 23 de janeiro de 2010
Amaldiçoo estes dias que passam,
Sempre iguais a todos os outros,
Idênticos no futuro.
Perto. Longínquo.
Não há chuva que me sacie,
Nem sol que me aqueça.
O vento perdeu as forças.
A terra afunda-me nas suas entranhas.
Espiral confinada em si,
Apertando-se em sufoco,
Encerrando as vozes das tempestades.
Não passo as noites a dormir,
Não sigo os dias a viver.
Sempre iguais a todos os outros,
Idênticos no futuro.
Perto. Longínquo.
Não há chuva que me sacie,
Nem sol que me aqueça.
O vento perdeu as forças.
A terra afunda-me nas suas entranhas.
Espiral confinada em si,
Apertando-se em sufoco,
Encerrando as vozes das tempestades.
Não passo as noites a dormir,
Não sigo os dias a viver.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Pintor
Loucura

Sorrateiramente passas,
Fracassando na incógnita do ser,
Enquanto libertas o teu odor adocicado,
Para que eu o siga.
E eu sigo.
Mergulho no vazio, ao som do teu sussurro,
Guiando-me na bruma que cai.
Aí, na profunda escuridão, deparo-me com o teu olhar,
Enquanto me mostras o destino,
Para que assim o aceite.
E eu aceito.
Precipito-me no abismo,
Numa queda sem fim.
Um cigarro fumado entre uns lábios molhados,
Protegido pelas mãos de um pintor.
E eu sou o cigarro.
Queremos arder nesse fogo-fátuo,
Consumir nossos corpos na solidão
Desse Inverno que nos uniu.
Arder até que a última chama se extinga,
Libertando as cinzas para o infinito.
(Pintura de René Magritte)
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Para a Graciosa. Até sempre.
Não somos novas.
Prova disso são alguns cabelos brancos,
E as rugas.
Eu não fico triste por as ter,
Considero-as um testemunho da minha vida.
E tu?
Já não te encontro nos cafés de outrora,
Porque na verdade, já não os frequento tão amiúde,
Mas tu também já não andas por lá.
Lembras-te da nossa adolescência?
Duvidas. Certezas.
Crença em tudo mudar.
Provavelmente pensas, na solidão dos dias,
Que deixaste fugir a vida entre as mãos,
Vendo-te como traidora de uma meninice.
Eu digo-te que não.
Afirmo-te que não.
Carregamos as lições das vidas.
Abençoado o pão que comemos.
Sagrados os desvios que fazemos.
Prova disso são alguns cabelos brancos,
E as rugas.
Eu não fico triste por as ter,
Considero-as um testemunho da minha vida.
E tu?
Já não te encontro nos cafés de outrora,
Porque na verdade, já não os frequento tão amiúde,
Mas tu também já não andas por lá.
Lembras-te da nossa adolescência?
Duvidas. Certezas.
Crença em tudo mudar.
Provavelmente pensas, na solidão dos dias,
Que deixaste fugir a vida entre as mãos,
Vendo-te como traidora de uma meninice.
Eu digo-te que não.
Afirmo-te que não.
Carregamos as lições das vidas.
Abençoado o pão que comemos.
Sagrados os desvios que fazemos.
Morte! Ao medo!
Mostra-te, ó medo,
Para que possa cravar um punhal no teu peito,
Rasgar o tecido muscular,
Para que de ti jorre esse sangue cobarde.
Sai da tua toca, ó medo,
Deixa-me enfrentar a tua fronha,
Cravar as unhas no teu crânio,
Povoado de inúteis pensamentos.
Levanta-te já, o medo,
Da latrina putrefacta em que habitas,
Solta o passo célere,
E permite-me esgaçar os teus tendões.
Inspira, ó medo,
Esse ar bafiento que te rodeia,
Enquanto tentas resistir
À mão que te sufoca.
Foge, foge, ó medo,
Entre os teus cursos de inércia,
Para que te possa assassinar no sonho do futuro.
Para que possa cravar um punhal no teu peito,
Rasgar o tecido muscular,
Para que de ti jorre esse sangue cobarde.
Sai da tua toca, ó medo,
Deixa-me enfrentar a tua fronha,
Cravar as unhas no teu crânio,
Povoado de inúteis pensamentos.
Levanta-te já, o medo,
Da latrina putrefacta em que habitas,
Solta o passo célere,
E permite-me esgaçar os teus tendões.
Inspira, ó medo,
Esse ar bafiento que te rodeia,
Enquanto tentas resistir
À mão que te sufoca.
Foge, foge, ó medo,
Entre os teus cursos de inércia,
Para que te possa assassinar no sonho do futuro.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Platonismo
Desistir.
Amar.
Recear.
Continuar!
Perder.
Erguer.
Respirar.
Desanimar.
Esventrar.
Renunciar
Continuar!
Assustar.
Morrer.
Asfixiar.
Resistir.
Continuar!
Estacar.
Continuar!
Abater.
Morrer.
Acontecer.
Revelar.
Amar.
Recear.
Continuar!
Perder.
Erguer.
Respirar.
Desanimar.
Esventrar.
Renunciar
Continuar!
Assustar.
Morrer.
Asfixiar.
Resistir.
Continuar!
Estacar.
Continuar!
Abater.
Morrer.
Acontecer.
Revelar.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Egoísmo
Cansei.
De tanto cuidar,
De tanto pensar,
De tanto fazer,
De tanto buscar,
De tanto querer.
Cansei.
De tanto acreditar,
De tanto continuar,
De tanto insistir,
De tanto cair,
De tanto levantar.
Cansei.
De ser.
De perder.
De ter e não ter.
De não ser.
Cansei tanto, que agora descanso.
De tanto cuidar,
De tanto pensar,
De tanto fazer,
De tanto buscar,
De tanto querer.
Cansei.
De tanto acreditar,
De tanto continuar,
De tanto insistir,
De tanto cair,
De tanto levantar.
Cansei.
De ser.
De perder.
De ter e não ter.
De não ser.
Cansei tanto, que agora descanso.
Certeza
Amo.
Os pingos de chuva,
Enquanto escorrem pelo meu rosto,
Limpando o medo.
Amo.
A chuva torrencial,
Impiedosamente arrastando,
O mais fundo do pensamento.
Amo.
As gotas de mar,
Que se evaporam do meu corpo,
Lembrando o sabor a sal.
Amo.
O imenso oceano,
Revolvendo esse tal sentimento.
Amo.
Os sopros do vento,
Cabendo inteiros nos meus ouvidos.
Amo.
Os triunfantes vendavais,
Acarretando as dolorosas derrotas.
Amo.
O fogo que destrói, ardendo ruidosamente.
Amo. Amo. Amo.
E não sei se te amo a ti.
Os pingos de chuva,
Enquanto escorrem pelo meu rosto,
Limpando o medo.
Amo.
A chuva torrencial,
Impiedosamente arrastando,
O mais fundo do pensamento.
Amo.
As gotas de mar,
Que se evaporam do meu corpo,
Lembrando o sabor a sal.
Amo.
O imenso oceano,
Revolvendo esse tal sentimento.
Amo.
Os sopros do vento,
Cabendo inteiros nos meus ouvidos.
Amo.
Os triunfantes vendavais,
Acarretando as dolorosas derrotas.
Amo.
O fogo que destrói, ardendo ruidosamente.
Amo. Amo. Amo.
E não sei se te amo a ti.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Palavras
Isto é o que eu quero dizer.
Aquilo que nunca te disse.
Escondido perdido num baú sem fundo.
Pensamentos cobertos de assustadoras duvidas.
Aquilo que na realidade te quero dizer,
Resume-se a tudo que trago guardado,
Num livro cheio de nada,
Escrito em tinta de água.
Na certeza, aquilo te que vou dizer,
Remete-se ao profundo silêncio.
Aquilo que nunca te disse.
Escondido perdido num baú sem fundo.
Pensamentos cobertos de assustadoras duvidas.
Aquilo que na realidade te quero dizer,
Resume-se a tudo que trago guardado,
Num livro cheio de nada,
Escrito em tinta de água.
Na certeza, aquilo te que vou dizer,
Remete-se ao profundo silêncio.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Na berma da estrada,
Acumulam-se milhares de folhas ímpares,
Outrora testemunho de uma desejada primavera.
Vão passando as pessoas,
Na constância dos seus rituais,
Fingindo assim ignorar a circunstância do dia.
Ao longe um bebé chora,
Pela realidade do imperceptível.
Não tão longe uma criança chora,
Perante a inconcretização do sonho.
Ao perto o homem ri,
Omitindo o choro,
Em ti o ser sofre nas palavras que tardaram.
Acumulam-se milhares de folhas ímpares,
Outrora testemunho de uma desejada primavera.
Vão passando as pessoas,
Na constância dos seus rituais,
Fingindo assim ignorar a circunstância do dia.
Ao longe um bebé chora,
Pela realidade do imperceptível.
Não tão longe uma criança chora,
Perante a inconcretização do sonho.
Ao perto o homem ri,
Omitindo o choro,
Em ti o ser sofre nas palavras que tardaram.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Mais de um metro tem os meus braços.
Quando te envolvo neles parecem ser infinitos,
E é aí que eu te perco.
Um metro e vinte de mão a mão,
Incapaz de enlaçar esse mundo.
Dois olhos castanhos-esverdeados,
Olhando a tua figura esbelta,
Perdendo-se no espaço da vida.
O astigmatismo, um defeito que não impede
De ver o mundo que desaparece.
Um coração que pára na realidade do possível,
Batendo na impossibilidade do impossível.
Quando te envolvo neles parecem ser infinitos,
E é aí que eu te perco.
Um metro e vinte de mão a mão,
Incapaz de enlaçar esse mundo.
Dois olhos castanhos-esverdeados,
Olhando a tua figura esbelta,
Perdendo-se no espaço da vida.
O astigmatismo, um defeito que não impede
De ver o mundo que desaparece.
Um coração que pára na realidade do possível,
Batendo na impossibilidade do impossível.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Campo 24 de Agosto, 11/01/2010
Andava o mundo embalado,
Seguindo a translação inevitável,
Cumprindo a rotação dos dias.
Vivia o homem os dias,
Uns atrás dos outros,
Passado esquecido no presente,
Presente angustiado pelo futuro.
Abrigava-se o homem na sua toca,
Projectada ao longo do trabalho de uma vida,
Fugindo do certo saber.
Corriam assim os tempos,
Neste planeta que habitámos,
Onde a voz da razão se cala,
O ânimo da luta cessa e Homem se anula.
Seguindo a translação inevitável,
Cumprindo a rotação dos dias.
Vivia o homem os dias,
Uns atrás dos outros,
Passado esquecido no presente,
Presente angustiado pelo futuro.
Abrigava-se o homem na sua toca,
Projectada ao longo do trabalho de uma vida,
Fugindo do certo saber.
Corriam assim os tempos,
Neste planeta que habitámos,
Onde a voz da razão se cala,
O ânimo da luta cessa e Homem se anula.
Dois átomos de hidrogénio e um átomo de oxigénio
Na foz, onde o rio acaba,
E o mar começa.
Turvas águas tornando-se cristalinas,
Turbulência derrotando a quietude.
A luta das diferentes águas,
Reclamando a vitória.
Opostos estados líquidos,
Pares em composição.
Nem aos paredões graníticos,
Ou aos bancos de areia
É possível o controle dessa discórdia.
Não há sequer a mais ténue visão
De um farol que guie essa eterna procissão.
As bússolas não se encontram,
Gastos estão os astrolábios,
Ofereceram-se os mapas ao velho Adamastor.
Até a estrela polar recusa brilhar,
Enquanto a diferença não se torne
Nota de identidade: água só!
E o mar começa.
Turvas águas tornando-se cristalinas,
Turbulência derrotando a quietude.
A luta das diferentes águas,
Reclamando a vitória.
Opostos estados líquidos,
Pares em composição.
Nem aos paredões graníticos,
Ou aos bancos de areia
É possível o controle dessa discórdia.
Não há sequer a mais ténue visão
De um farol que guie essa eterna procissão.
As bússolas não se encontram,
Gastos estão os astrolábios,
Ofereceram-se os mapas ao velho Adamastor.
Até a estrela polar recusa brilhar,
Enquanto a diferença não se torne
Nota de identidade: água só!
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Maria
Maria seguia timidamente pela estrada,
Decidida no caminho a percorrer,
Indecisa no final que a aguardava.
Seguia Maria confiante pela berma,
Protegendo o rosto do frio cortante,
Abrigando a espalda com o manto negro.
Maria seguia, sem forças, pelos trilhos,
Esqueleto vergado ao peso dos anos,
Pés gastos nos atalhos da existência.
Seguia Maria, derrotada pelos séculos,
Olhos turvos de água
Cegos ao presente que a encara.
Segui Maria, entre as sendas do tempo,
Enquanto Maria seguia agora, arrastando o seu cadáver.
Decidida no caminho a percorrer,
Indecisa no final que a aguardava.
Seguia Maria confiante pela berma,
Protegendo o rosto do frio cortante,
Abrigando a espalda com o manto negro.
Maria seguia, sem forças, pelos trilhos,
Esqueleto vergado ao peso dos anos,
Pés gastos nos atalhos da existência.
Seguia Maria, derrotada pelos séculos,
Olhos turvos de água
Cegos ao presente que a encara.
Segui Maria, entre as sendas do tempo,
Enquanto Maria seguia agora, arrastando o seu cadáver.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Diz-me tu, ó sábio feiticeiro,
quanto tempo falta ao tempo,
para o futuro ao passado voltar,
caindo sobre nós o destino sobranceiro?
Explica-me bem,
essa força arrastando o mundo,
precipitando-o no sabido abismo,
Que de fundo se faz mais profundo.
Mostra-me já, ó sábio feiticeiro,
o tempo que me resta,
nesta vida que não presta.
quanto tempo falta ao tempo,
para o futuro ao passado voltar,
caindo sobre nós o destino sobranceiro?
Explica-me bem,
essa força arrastando o mundo,
precipitando-o no sabido abismo,
Que de fundo se faz mais profundo.
Mostra-me já, ó sábio feiticeiro,
o tempo que me resta,
nesta vida que não presta.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Sonho (2)
Ontem sonhei que sonhava
e me mantinha desperto
contente por escapar
de um mundo que me era incerto
seguro porque voltava
ao que é lógico e real
à vida que firme sabe
do que é bem e do que é mal
quando tornei a dormir
já rompia a madrugada
e na clara luz não tinha
certeza de nada
Agostinho da Silva
e me mantinha desperto
contente por escapar
de um mundo que me era incerto
seguro porque voltava
ao que é lógico e real
à vida que firme sabe
do que é bem e do que é mal
quando tornei a dormir
já rompia a madrugada
e na clara luz não tinha
certeza de nada
Agostinho da Silva
Puebla de Lillo, 01/01/2010
De uma qualquer janela
Observo aquele decidido manto branco,
Agasalhando o solo indefeso.
A surripiadora águia rasgando os altos céus
Em busca do inocente alimento.
Tímidas lebres invisíveis,
Resguardadas nas suas tocas.
Lá fogem as nuvens,
Prometendo violentas tempestades.
E lá segue o vento,
Descendo as montanhas,
Assomando aqueles que o evocam.
E eu sou, um tímido floco de neve,
Aos tropelões pela atmosfera,
Que se liquefaz num ramo de urze.
Observo aquele decidido manto branco,
Agasalhando o solo indefeso.
A surripiadora águia rasgando os altos céus
Em busca do inocente alimento.
Tímidas lebres invisíveis,
Resguardadas nas suas tocas.
Lá fogem as nuvens,
Prometendo violentas tempestades.
E lá segue o vento,
Descendo as montanhas,
Assomando aqueles que o evocam.
E eu sou, um tímido floco de neve,
Aos tropelões pela atmosfera,
Que se liquefaz num ramo de urze.
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