30ºC
início a descida pela avenida
envolta em nevoeiro
o frio afugentou as pessoas
ou talvez a hora não ajude
torna-se difícil respirar este ar gélido
que invade os pulmões, que corta as costelas
ninguém cruza o meu caminho
ninguém se avista ao perto, ao longe
onde está a cidade
dorme escondida com uma cruz no peito
na noite anterior lavou o sangue das mãos
[sou vulto cinzento de rosto tapado
figura disforme que sublima na memória
há muito tempo que me esqueci]
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
Tantas desculpas deitadas no esquecimento... E as mãos cumprem o castigo sem reclamar!
ResponderEliminarBeijo, poeta da voz que me...dita!
Conheço de perto este esquecimento, onde só as passagens vultuosas dizem de nós.
ResponderEliminarBeijo.
amo descer esta avenida com a mão entrelaçada a tua, poeta do caraca (brasileirando)
ResponderEliminarbj
ninguém e um esquecimento:
ResponderEliminaro eu se depõe
a cidade é um fantasma desperto
beijo
o coração da frase é o esquecimento mas o texto a que pertence, esse, acende a vertigem de toda a memória. mesmo que a avenida se apague e todos corram para lugar nenhum. alguma vez saberemos entender e aceitar este tão cinzento espelho do nosso próprio olhar?
ResponderEliminarbeijos, amiga!
O frio de nós é sempre o mais difícil de suportar.
ResponderEliminarBeijos, minha querida
(Nunca mais houve novidades, teremos sido ludibriadas?)
Fiquei confuso (e isso não é ruim)... 30°C é frio?
ResponderEliminarLaurinha,
ResponderEliminarum tanto a esquecer e outro tanto a tentar esquecer, nesse frio da alma.
Beijos desejando tudo de bom aos dois!
- que as figuras da cidade e as figuras de seu corpo unam-se para a estrada do si mesmo. sempre.
ResponderEliminargrande abraço, querida Raquel.
A tua poesia é sempre excelente, mas enigmática...
ResponderEliminarE este poema "pertence" a essa tua característica poética.
Um beijo, querida amiga.
Olá, boa tarde, tem um recado no blog :)
ResponderEliminarBjinhos
http://chadecalmila.blogspot.com.br/
Senti os 30º...!
ResponderEliminarGostei de ler, gosto sempre!
Beijo
Querida amiga
ResponderEliminarFoi apenas um nevoeiro.
Aliás dias assim sempre afugentam a nós mesmas.
Um lindo dia para você.
Bjs.
A cidade aproxima, mas de costas voltadas. A cidade é um esboço da nossa solidão.
ResponderEliminarBeijo :)
gente, que lindo, tão inspirador e certeiro!
ResponderEliminarGostei, melhor dizendo, apreciei, mas não gostei, porque sentir isso não deve ser agradável: 30º em redor e frio ao mesmo tempo. Brrrr...
ResponderEliminarbeijinho