Afinal é esta a minha função, aguardo os que tombam pela estrada, entre a cidade e o fumo. Uns serão poupados, outros não. São sempre em maior número aqueles que não resistem. Vá-se perceber o motivo. Poucos foram os que levantei, afastando o nariz em sangue do alcatrão, que me devolveram um brilho no olhar. Apesar da dor, um sinal de que a vida ainda existia e resistia.
Grande parte deixou a derrota sair vitoriosa e entregaram-se.
Precioso o momento, em que sentiam toda a sujidade do asfalto, quando o seu sangue se misturava com a água da sarjeta, fazendo boiar as beatas e os pedacinhos minúsculos de papeis.
Dois parágrafos e duas vezes a palavra sangue. Acaso poderia ter escrito de uma outra forma? Provavelmente sim, mas não o quis. Para mim o homem é feito de sangue, de carne, de pele. Alma? Alma se existe, corre nas veias, só.
Quando se desiste, o sangue esvai-se até se perder numa qualquer calçada, se for numa cidade estrangeira, perfeito.
Já me habituei a ser ignorada. As cortinas que se correm, as portadas que se batem, as portas que se fecham. Do outro lado, sinto o seu respirar ofegante e o medo que se apodera das suas mentes.
Um dia ficarei sozinha nesta cidade. Descobrirei por fim a tal felicidade. Todas as casas, vazias. Todas as ruas, desertas. Em todos os espelhos, a minha invisível imagem.
Grande parte deixou a derrota sair vitoriosa e entregaram-se.
Precioso o momento, em que sentiam toda a sujidade do asfalto, quando o seu sangue se misturava com a água da sarjeta, fazendo boiar as beatas e os pedacinhos minúsculos de papeis.
Dois parágrafos e duas vezes a palavra sangue. Acaso poderia ter escrito de uma outra forma? Provavelmente sim, mas não o quis. Para mim o homem é feito de sangue, de carne, de pele. Alma? Alma se existe, corre nas veias, só.
Quando se desiste, o sangue esvai-se até se perder numa qualquer calçada, se for numa cidade estrangeira, perfeito.
Já me habituei a ser ignorada. As cortinas que se correm, as portadas que se batem, as portas que se fecham. Do outro lado, sinto o seu respirar ofegante e o medo que se apodera das suas mentes.
Um dia ficarei sozinha nesta cidade. Descobrirei por fim a tal felicidade. Todas as casas, vazias. Todas as ruas, desertas. Em todos os espelhos, a minha invisível imagem.
[Fotografias de Laura Alberto]
Ei, Laura,
ResponderEliminarde uma força que impressiona tua escrita em conjunto com as imagens
o título, as placas, a escada em caracol, putz, quantas visões se misturam às crenças e não crenças, à realidade, ao ilusório
sempre marcante
beijos ♥
se não muitas vezes, quase sempre, sei que sozinha, percebo e sinto com autenticidade o núcleo de todas as coisas
ResponderEliminarbeijos!
Não sabia que trabalhavas no INEM...
ResponderEliminarBeijo, querida amiga.
PS; as letrinhas...
"Um dia ficarei sozinha nesta cidade. Descobrirei por fim a tal felicidade. Todas as casas, vazias. Todas as ruas, desertas. Em todos os espelhos, a minha invisível imagem."
ResponderEliminare não seria isso a alma?