fêmea
talvez traga a noite encarcerada no peito,
os pesadelos emaranhados no cabelo
e o vento tenha deixado cicatrizes na pele
mas hoje prometo-te que não beberei
desse meu veneno moroso,
visto o vestido de seda que me ofertaste
disfarço as olheiras, alinho os cabelos
embebedo o corpo de perfume
encho o copo e espero te
talvez esteja condenada
a dias sombrios, gelados e densos,
as trevas como companhia única
quando chegares serei carne, a tua carne
seremos carne
arrefecida pela espera
feridas secas que ardem
debaixo do teu corpo em chamas
[trespassa-me com a língua, viola as pétalas que existem em mim
canso-me com facilidade de ser um trapo de cor]
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
talvez uma taça de vinho
ResponderEliminarseja a melhor companhia
desse poema que dança
entre meus cílios
...
lindo, lindo, lindo
...
porque o corpo vicia-se carne...que seja saciado!!
ResponderEliminarbeijinho, querida amiga intensa!!
as vezes esse despedaçamento, esse esfarelar-se é um modo de nos darmos ao mundo/ ao outro - deve ser por isso que a tua escrita é tão dolorida - um modo de se entregar ao outro (só pensamentos)
ResponderEliminarum beijo
Laurinha,
ResponderEliminarsou adepta da iconoclasia. Acredito que o destruir pode levar ao reconstruir, definitivamente.
Beijos!
Cada verso, uma ferida aberta, o poeta cola as peles do poema, apenas para que ele possa rasgá-las outra vez.
ResponderEliminarNão cansarei de dizer: Em todos os blogs que visito, nenhuma escrita se aproxima tanto de mim quanto a tua. Devo isso ao meu mega querido Jorgito.
Bj imenso, poetaça!
Um corpo em chamas numa noite fria à espera daquela que quer ser carne para preencher a alma vazia. E mais uma vez parabéns pelo seu gosto musical. Sempre dicas muito boas!
ResponderEliminarBjos
como admiro a tua escrita...
ResponderEliminarbeijo, Laura
nenhuma cor, nenhuma tela, nenhuma mão se fazem eternos. é na memória que tudo vive... enquanto ela viva.
ResponderEliminarbeijos, laura!
Nem se importa com a entrega de ser mais uma vez um trapo.
ResponderEliminarBjs.