o animal aproximou-se de repente,
de músculos brilhantes devido ao suor que se acumulava pelo corpo, cabelo
rapado e mãos desesperadas. deixou antever uma fileira de dentes, enquanto
esboçava um sorriso. uma voz rouca e quente questionou, Eu venho do inferno. E
tu de onde vens?
ela vinha do ar, não do céu da
atmosfera azul que rodeia a Terra. não teve medo perante a figura e pergunta.
com dureza na voz lá respondeu, Ando por aí. Não sei bem de onde venho.
aproximou o seu corpo do dela,
dobrou-se ligeiramente sobre o seu pescoço. Inspirou e expirou violentamente. ela
permaneceu imóvel, sem se desviar. Não me interessa de onde vens. O inferno não
me assusta, nem os seres que por lá rodam. Na verdade, sei por onde andei e
isso basta-me.
uma gota de suor escorreu do seu
rosto para o seu peito, o ar tornou-se abafado, quase que irrespirável. no céu
juntaram-se densas nuvens negras e o vento fez-se sentir quente. o animal continuou
a falar, num discurso pouco coerente,
Não foi por correr nos caminhos
das trevas que sou banido, deixei-me ceder perante as tentações e devorei os
prazeres que me foram ofertados. não sou um ser de aspeto asqueroso, se bem que
o meu íntimo às vezes o é. saí quando o meu corpo estava saciado, mas a minha
alma não. é tarde. as estações não param. eu não parei. agora estou aqui,
animal de nome, com a alma confusa e o corpo faminto.
ela permaneceu imóvel, ouvindo-o
calmamente. se o seu coração disparou, o corpo soube disfarçar. se o corpo
ganhou forma de boca, ela ordenou-lhe que a fechasse. se a sua pele ganhou as
suas cores, ela obrigou que se tapasse. se as suas entranhas gritavam por ele,
ela ordenou o seu silêncio.