bilhete de identidade
o meu nome é ninguém, tenho 41 anos de vida, quase 42
nasci em Abril como tantas outras pessoas
tenho uma família, tenho uma profissão que gosto, tenho emprego
continuo a ser ninguém, com os meus 41 anos
tipo sanguíneo A +, ADN em espiral como todos da minha espécie
não sei o significado da fome, nem da guerra
o meu nome é ninguém e apesar de os meus amigos me tratarem pelo meu nome
o meu nome continua a ser ninguém e estou só
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
domingo, 18 de março de 2018
egoísta
enquanto à sua volta morrem os animais
enquanto à sua volta padece a natureza
enquanto à sua volta morrem inocentes
enquanto os outros são apenas números que desfilam nos rodapés dos noticiários
enquanto são os outros e não ele
enquanto ele não se torna num cadáver como os outros
vai desfiando a vida e lamentando a vida que cumpre
enquanto à sua volta morrem os animais
enquanto à sua volta padece a natureza
enquanto à sua volta morrem inocentes
enquanto os outros são apenas números que desfilam nos rodapés dos noticiários
enquanto são os outros e não ele
enquanto ele não se torna num cadáver como os outros
vai desfiando a vida e lamentando a vida que cumpre
quarta-feira, 14 de março de 2018
ainda que me cubram com a mais pesada terra
vinda dos quatro cantos do mundo
ainda que se esqueçam dos míseros cêntimos
para a divida pagar ao barqueiro
não serão os vossos rosários gastos que me vão salvar
não serão as falsas rezas que me trarão descanso eterno
no meu peito sinto as entranhas em fogo
que nasce do fundo escondido e se alastra
pelos ossos, pela carne, pela pele
soltando-se num interminável grito
e se hoje é a dor que me cobre as pálpebras
e se hoje é negro o meu corpo
amanhã ou depois erguer-me-ei
para me enfrentar, para me vingar
por que aquilo que me consome é o que me dá vida
terça-feira, 13 de março de 2018
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