«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Manifesto XXI

General

o general e o seu pesado casacão,
botas sujas de pó,
a fúria,
incrustada nos pulmões de asmático,

o general e o seu velho cavalo negro,
olhos vazios abraçando o campo,
o desejo,
fechado no peito raquítico,

o general e a sua arma ferrugenta,
ouvidos moucos ao murmúrio das serras,
o medo,
escondido nos pés torcidos,

o general e o seu batalhão,
regressam separados às suas casas

as cartas escritas,
perderam-se na berma da estrada


Marcantonio, Melancolia 25 – In Lingua Mortua, Técnica Mista 154×84 cm, Rio de Janeiro, 2006

1 comentário:

  1. a grande questão, laurita, é saber se os generais ainda sabem combater, depois de tantos anos na imobilidade e pequenez das medalhas de pseudo serviços prestados. de resto, já nem batalhões têm; deixam-nos para os graduados de inferior patente. resta aos soldados regressar a casa, onde a linguagem militar é similar.
    um abraço, amiga!

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