«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Polaroid 20


Fotografia de Pedro Polónio,
http://club-silencio.blogspot.com/

Nu

não sei o que vestir
todas as peças de roupa no armário são esqueletos
esquecidos, vazios

passo a mão por elas
o toque devolve-se áspero,
e a humidade provoca arrepios

abanam suavemente
enquanto as remexo
e nenhuma deles cobrirá a minha pele

não sei o que fazer
deitada na banheira, toda água é suja
e as memórias escorrem pelas paredes

rolos de vapor sobem, vagarosos
pintam o tecto com manchas
que não são mais que a ausência

3 comentários:

  1. a ausencia é um território de nudez total, nada há


    beijo

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  2. «pintam o tecto com manchas
    que não são mais que a ausência»

    A ausência é a mancha que nos marca, essa nudez que atormenta, faz sofrer e nos deixa tão vulneráveis...

    Beijo,
    Cristina.

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