«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Polaroid 18

Boneca num escaparate

oferece-se:
braço de plástico semi-articulado
ostentando mão com um dedo em falta,
nos restantes, unhas pintadas de vermelho

dá-se:
pernas de plástico descolorado, estáticas
ornamentadas por meias de rede pretas,
pés cobertos por saltos altos, pretos


troca-se:
torso de plástico rígido, frio
por um pedaço de peito,
quente, distante

procura-se:
uma mão doce
que afague o corpo e limpe a pele

Fotografia de Pedro Polónio, http://club-silencio.blogspot.com/

2 comentários:

  1. toma. é tua. há apenas uma condição:
    retira-lhe a luva negra com suavidade. estende-a no bidé. deixa a água massajar-lhe as costas (deve ser morna) e acaricia-a com sabão. a pedra-pomes terá de ser usada em movimentos circulares, gentis, como se de veludo se tratasse. seca-a em linho genuíno, e põe-na na corda a secar. segreda-lhe que voltas cedo e que jamais a deixarás só. um breve aceno deve fechar o cenário.
    depois disto? será tua... até que a água se perca no ralo.

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