«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Cor: Castanho

para quê abrir os olhos?
afago os grãos de areia húmida
com a ponta dos dedos dos pés

[onde estão as horas
que escorreram entre os nossos braços?
acaso invadiram a pele e gelaram o peito?]

porque me hei-de erguer?
sinto as vagas do mar em todo o corpo,
chegadas para rasgar as entranhas

[onde estão os teus lábios
mesmo que frios, gelados
para me sussurrarem palavras baças?]

onde estou eu?
algures numa poça, algures à deriva
onde fico eu?

1 comentário:

  1. há vestígios de terra neste teu castanho. terra-vida, daquela que acaricia a semente, beija-a, penetra-lhe o ventre fazendo-a explondir em fertilidade. e o arco-íris mora aqui tão ao lado...
    um abraço, laura!

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