«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Cor: Azul

um arame, um arame num esfregão
um esfregão de arame
uma barra, uma barra num sabão
uma barra de sabão

uma torneira, muda
água quente, surda
uma banheira, branca
uma toalha macia de gasta

esfrego, raspo e esfrego
com fúria, com dor
e toda a sujidade continua lá
os pinheiros esqueceram o pó

ao menos sobem bolas de sabão

2 comentários:

  1. a ironia deste teu texto é soberba! quase imagino os risinhos velhacos de olhos sem rosto perante as bolas que se erguem no céu [quase azul], enquanto o sabão faz feridas na pele moribunda...
    btravo, amiga! impossível cortar as mãos quando se escreve assim.

    ResponderEliminar