«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

desAlinhado XVII


XVII
a noite desce silenciosa
sobre a majestosa avenida
vestida de gente apressada,
que corre, que pára
que espera e que parte
alheia à humidade da noite
que transpira no granito sujo

viro à esquerda, uma alameda
vazia, quase vazia, um depósito
de carros luxuosos
árvores seculares
de beatas,
de papéis
de escarros,
paralelos perdidos

caminho com o frio nos pés
finjo que corro, apressada
entre faróis amarelos de automóveis
à procura do caminho de regresso a casa
e lentamente vejo-me a desaparecer
uma névoa cinzenta colada aos abetos

pudesse eu
falar
gesticular
erguer os braços
mexer as mãos

pudesse eu ser eu
não sendo invisível

[Meus queridos amigos,
nunca um texto meu tinha sido alvo de tantos comentários. Algo que me deixa bastante feliz. Motivo pelo qual me vejo, agradavelmente obrigada, a deixar aqui uma palavras de agradecimento a todos os que comentam e que lêem.
Não sou mestre com as palavras, por isso deixo aqui o meu sincero Obrigada, pelas vossas palavras, pela vossa visita.
Abraço
LauraAlberto]

13 comentários:

  1. quando a voz
    se cobre
    com a capa do silêncio
    e reverbera:
    poesia!

    Beijinho carinhoso, amiga-poeta-do-além-mar!

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  2. - seu lirismo é, realmente, um dos mais belos, Laura. Parabéns.
    mas confesso que tenho uma visão diferente da invisibilidade do nosso ser, até porque, acredito eu, mesmo o ínfimo sibilo de nossa respiração é capaz de provocar um eco ensurdecedor.

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  3. noturno para (c)idades invisíveis,


    beijo

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  4. Ocultamo-nos para...ser? Bom percorrer as avenidas da sua poesia, Laura!

    Beijos,

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  5. Apenas de passagem, só por uma linguagem diferenciada, à invisibilidade da poesia. Presente.

    ¬

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. vi na tela a cena
    os movimentos, a noite, o silêncio, a névoa, as respirações e transpirações
    leio-te e vejo o vídeo e sinto a vibração dos tímpanos
    sinto um arrepio

    beijo grande

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  8. um ser invisível não tem noção da sua própria invisibilidade. estou em crer, amiga, que a verdadeira invisibilidade é o tanto que vemos uma coisa sendo, na verdade, outra totalmente diferente... achem-se novos olhos e os respetivos objetos.
    beijo!

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  9. Laura, tudo bem?

    O invisível quando divisível é amor.

    Beijos e ótimos dias!

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  10. o invisível faz ruídos na cidade e com os olhos escuto.
    Maravilha, Laura
    bj

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  11. Mas não são invisíveis as tuas palavras.
    Excelente poema, gostei imenso.
    Laura, querida amiga, bom resto de domingo e boa semana.
    Beijo.

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  12. a noite tem este poder, tornar visível o invisível, quanto mais não seja dentro de nós...
    belíssimo como sempre!
    beijo, Laura.

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  13. Meus queridos amigos,
    nunca um texto meu tinha sido alvo de tantos comentários. Algo que me deixa bastante feliz. Motivo pelo qual me vejo, agradavelmente obrigada, a deixar aqui uma palavras de agradecimento a todos os que comentam e que lêem.
    Não sou mestre com as palavras, por isso deixo aqui o meu sincero Obrigada, pelas vossas palavras, pela vossa visita.
    Abraço
    LauraAlberto

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