«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

esventrado I

Fotografia de Pedro Polónio, http://club-silencio.blogspot.com/

já mirraram as ervas rasteiras no rés da porta
os cães desistiram de mijar nas paredes
os miúdos guardaram as suas pedras no bolso
e o frio desistiu de invadir os vidros partidos


perdeu-se o odor dos narcisos apodrecidos
a pele, colada em paredes nuas


o silêncio é algo que ainda consigo berrar

5 comentários:

  1. - o silêncio também diz, já dizia o mestre Sidarta.

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  2. antes tudo o que acaba do que o que teima em não querer germinar...
    beijinho!

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  3. Laura,

    o tempo desistiu de avançar,
    o silêncio -
    velho senhor que tudo sabe, mas não quer falar -
    sentencia afônico a hora de gritar para dentro.

    Linda tua poesia!

    Beijos!

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  4. Do grito ao silêncio, a poesia, no ventre livre do verso, o reverso de uma vida. Sofrida.

    ¬

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