«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 28 de maio de 2012

notas para homicídio improvável

I
observo-te pelo canto do olho
imóvel
de pernas dobradas contra o peito


II
as engrenagens bem oleadas
o silêncio do tambor
o pano religiosamente pousado


III um tremor, um temor
o sinal da cruz
por ti são todos os santos enterrados


IV
vento
temporal
sepulcro 


V
ofereço-te o corpo
que te ensinou a fúria dos mares
aqueço o ventre onde anseias mergulhar
VI
rápido, rápido
não vá a lua
tombar

10 comentários:

  1. A fúria contundente a mergulhar nas entranhas antes que os sentidos lhe fujam da pele.
    Um assombro.

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  2. "ofereço-te o corpo
    que te ensinou a fúria dos mares
    aqueço o ventre onde anseias mergulhar"
    Raquel, isto é mesmo bom. Até chega a doer cá dentro.
    Beijinho

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  3. Laurinha,

    Se tem a condição do "improvável" pode ser apenas uma ameaça de algo que não tem fim próximo.

    Beijos!

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  4. ADOREI AS MÚLTIPLAS (IM)POSSIBILIDADES DE HOMICÍDIO!!!

    BEIJOS =)

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  5. Fascinante, querida Laura, assim como toda sua literatura.

    Beijo de admiração!

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  6. gostei de todos, mas o meu preferido é o V, há algo de encantador nesses versos

    beijos

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  7. :-) uma delícia de poema!
    beijos, Laura!
    p.s. perdi-me do teu mail...

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  8. Vento, temporal, sepulcro... trilogia para boca em fúria.
    De 1 a 5, todos!
    Bj, poeta-fúria

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  9. Os medos, as urgências, as escapatórias...
    Será que, para lá das paredes, apenas existe arame farpado?

    Beijo :)

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