«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 24 de maio de 2012

purgatorium XXVII


Os pensamentos surgem-me em catadupa, atropelam as linhas tortas do tempo imóvel e acumulam-se na mente. Comprimem os ossos do crânio do lado de dentro.
Uma dor aguda que cresce sem parar sobre a linha das sobrancelhas. Franzo-as. Fecho os olhos.
Sinto que vai chover em breve. Antevejo pesadas gotas de água fria ensopando-me os ossos. E a dor, permanece lá.
Abro os olhos para um céu vermelho, colunas de ar abafado entre o céu e a terra.
A cegueira dos dias quentes chegou. A lucidez da solidão continua.


4 comentários:

  1. L.A, este purgatorium é o meu lugar. Ficaria todo o sempre a percorrê-lo sem o tempo do mundo.
    Adoro!
    Bj grandão

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  2. Laurinha,
    nunca um 'purgatorium' teu me coube tão bem.
    Amo essa série!
    Beijos!

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  3. entre a cegueira dos dias quentes e a lucidez da solidez: no balanço dos dias, o que é ganhar e perder?...
    abraço!

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  4. Ah...esse purgatório. Ainda que o pensamento lhe atormente a solidão continua.

    bjs.

    PS. Laura já não sei onde comentei.
    Bjs.

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