«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

domingo, 6 de maio de 2012

esventrado XI

tens a manhã na janela do teu quarto:
bebes o sol que te acorda na madrugada
esticas o corpo, bebes um café
e sais


refugio-me da luz que ofusca
em passos tortos pela casa
dobro as costas, encosto os joelhos ao peito
sucumbo à companhia do frio


trazes a calma quando chegas
tens o adeus sempre que partes
e sempre voltas, sempre


eu? esvazio o pensamento
certa de que já devia ter morrido,
ou nascido no teu passado
mas pela porta escancarada
desconheces como entrar
e o se, é lâmina que corta: aos dois


 

13 comentários:

  1. Laurinha,
    ação e reação de sentimentos.
    Uma porta aberta, mas esquecida, é quase isso. Uma triste perda do que nunca foi, ou não foi o suficiente.

    Querida amiga, muito obrigada pelas felicitações em função de meu aniversário. Tanto no meu blog, como no Face!
    Muitíssimo obrigada, tu és uma queridona! (e talentosa também) *-*

    Grande beijo e ótima semana!

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  2. Laura,
    Ler-te é sempre manancial de ideias que se congregam e desagregam, desassossego dentro do sossego. É bom? É mau? É óptimo!

    Beijo :)

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  3. Todos os "ses" são difíceis, especialmente os que descreves...

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  4. entre idas e vindas, a lamina afia o corte: sacia o se



    beijo

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  5. ainda estou a reparar os estragos de um Se... recente!

    Belíssima expressão,poeta amiga!

    Beijinho emocionado e com carinho!

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  6. Laura, queridona, o "se" é a hora da morte, quando os pensamentos suicidam-se de tantas possibilidades.
    Maravilhoso esventrado! Um espelho. Vi meu rosto.
    Bj imenso

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  7. Quem me dera poder (re)nascer no passado...
    Excelente poema, gostei muito.
    Laura, querida amiga, tem uma boa semana.
    Beijo.

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  8. Não havendo o "se" como haverei de acostumar-me sem essa lâmina? Ela corta sangra renova-nos e nos distancia do presente para vermos melhor e mais claramente, talvez!?

    um beijo

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  9. se corta a dois o que a sós não se cura.

    beijo!

    observaçãozinha: és uma primorosa poeta.

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  10. tenho vindo aqui namorar o teu poema (já lhe perdi a conta)...mas faltam-me palavras...
    belo, sempre belo.

    há sinais que se escondem na sombra dos "ses"...
    Abraço, Laura!

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  11. fio breve de uma morte anunciada; dos dois lados do gume.

    so-ber-bo, lauraamiga!

    beijo!

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  12. fio breve de uma morte anunciada; dos dois lados do gume.

    so-ber-bo, lauraamiga!

    beijo!

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  13. Fica sempre o se
    do encontro e desencontro. Quando vem acalma, quando vai á espera é torturante

    Belo.
    bjs

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