de repente tenho cem anos
tenho os séculos sobre os ombros
e arqueio as costas sobre luz pálida
vejo-me a caminhar na noite
reflexo devolvido pelas montras,
ausente de vida
de repente tenho cem anos
não conheço a imagem
que os teus olhos
devolvem, estranha
sou atravessada por uma bicicleta,
por miúdo com o seu brinquedo,
por um casal de namorados
cem anos: lavaram a dor
trouxeram o frio, o silêncio
as palavras que se afundam no peito
e de repente tenho cem anos
desconheço o que aqui me trouxe
ignoro o que me faz ficar
uma figura curvada sobre a mesa
uma pergunta,
a menina toma alguma coisa?
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
é... reforço aqui o que disse ao Domingos Barroso: poeta tem nos ombros o peso de todas as penas!
ResponderEliminarBeijinho sempre carinhoso, amiga-poeta-do além-mar!
- não posso deixar de dizer que mel embrei de Cem Anos de Solidão do mestre Gabriel Garcia Marquez.
ResponderEliminargrande abraço,
Por vezes a vida esmaga-nos com o seu quase insuportável peso, outras vezes convida-nos para dançar...
ResponderEliminarMuito bom!
Beijo :)
há momentos em que até a quase impercetível quitina do oxigénio se faz matéria plúmbea. haja ombros e sobretudo vontade de reerguer o mundo.
ResponderEliminarquerida amiga, a tua escrita tem profundidade; é feita de gente que conhece (ou procura conhecer) cada pedaço de si e nenhum idiota escondido atrás de um pseudónimo ou inicial covarde te há de abalar, até porque o plágio não é terra quente, rocha vulcânica a cuspir de dentro de dentro para fora - como a tua poesia; é feito da mesma massa covarde com que alguns precipitam a chuva molha-tolos: passa com a brevidade do que não deveria ter chegado, sequer. e acabamos por sacudir as gotas e seguir viagem.
beijo e abraço de alguém que admira a mulher e a poeta(isa)!
Laurinha,
ResponderEliminarde repente temos um século nos ombros em algumas décadas cronológicas,
experiência atemporal do nada,
do tudo,
uma vida sem tempo,
com tempo.
Laurinha,
tua Poesia é a única letra que aqui merece Honraria Maiúscula, pois não se esconde em vogais de caps lock, nem em minúsculas ou minúsculos disfarçados.
Literatura de qualidade, de personalidade, das entrelinhas que escondem ou revelam aos olhos como um reflexo do próprio leitor; não um elemento refratário do passageiro que se em tal está, em tal não consegue distinguir quando ou onde está a Verdadeira Poesia.
Ganhaste uma aliada, apreciadora de teus escritos e de tua pessoa. Tomei gosto! Agora na madrugada, com tranquilidade, li e reli vários poemas teus anteriores. Maravilhosos!
E aqui quem fala é tua nova amiga brasileira, do estado do Rio Grande do Sul (mais ao sul do Brasil), região que tenho orgulho por ser uma das que mais lê aqui no país. E tua Poesia, garanto, é intensa, por vezes seca, por vezes doce, mas muito segura, não anda em trilhas falsas, pois não precisas delas.
Vou colocar teu blog nos meus "blogs recomendados", pretendo vir em todas tuas postagens futuras, bem como vou indicar a amigos que apreciam Poesia Verdadeira, pois vão encher os olhos e a alma aqui no teu espaço virtual.
Pois sim, aqui se faz Poesia Verdadeira, aquela que amplia a significação, mas apenas para aqueles que tem condições de senti-la. Dos outros, não se espera mais que a insipiência.
Beijinhos e te cuida! :)
Laura,
ResponderEliminardeixo-te um grande beijinho e forte admiração por tudo o que escreves!
e em frente...! :-)
beijos!
Putz, Laura,
ResponderEliminarme vi um tanto neste desAlinhado
viver um século
e quanto há aí de horas, minutos, segundos, todos os dias, todos os dias, cem anos
e às vezes a intensidade dos momentos aceleram o tempo e parece envelhecemos entre um amanhecer passando pelo por do sol e o aparecimento da lua
beijo grande
Putz, Laura,
ResponderEliminarme vi um tanto neste desAlinhado
viver um século
e quanto há aí de horas, minutos, segundos, todos os dias, todos os dias, cem anos
e às vezes a intensidade dos momentos aceleram o tempo e parece envelhecemos entre um amanhecer passando pelo por do sol e o aparecimento da lua
beijo grande
E tantas vezes sentimos o peso de 100 ou mais anos na alma...
ResponderEliminarExcelente poema, parabéns.
Laura, querida amiga, desejo que tenhas uma boa semana.
Beijo.