«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Manifesto CXXXV

o caruncho invade a mortalha

e que sei eu ainda
finjo entre paredes que se erguem altas, brancas e sombrias
surda perante o canto de abutres cobrindo o azul, que quase não vejo, que quase esqueci

e que sei eu ainda
esta terra que assento com os pés está humedecida de sangue
e o caminho que se avista, precipita-se em abismos negros

e que sei eu ainda
este ponteiro que não pára afasta-me de mim
este ponteiro sem piedade aproxima-me do fim




Fotografia de Pedro Polónio, http://club-silencio.blogspot.com/

2 comentários:

  1. Passando para regar a alma...

    Beijinho, Laura!

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  2. "o ponteiro afasta-se de mim"
    ainda bem! nunca gostei desse gajo, mesmo :)

    beijinho com a certeza de que há mortes que jamais serão anónimas!

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