«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 3 de outubro de 2011


[Gala e Salvador Dali]

eu deixei de fumar de tu nunca fumaste

mas sei, que se te cravar um cigarro
guardas um no bolso para mim
que se te pedir lume, encontras no fundo do bolso do teu casaco um isqueiro sem gás

[lamento, não funciona]

continuas a insistir, a riscar, sem efeito, a pedra do isqueiro

[obrigada à mesma, alguém ao dobrar da esquina terá lume]

mas tinha a noite caído, sobre os candeeiros esguios de gélido metal

uma luz negra cobria agora as minúsculas pessoas, que corriam: fugiam entre os túneis do metro, entre autocarros repletos de sonhos desfeitos

a mesma luz negra, descia sobre a nossa pele, dobrava o teu rosto pálido e caia a meus pés

[será um risco percorrer esta calçada sozinha, agora…]

em bicos de pés bebia a tua voz

[agora que todos se vão e o café fechou]

à volta, apenas o silêncio e uma praça vazia

e uma vontade incontrolável de fumar um cigarro
um cigarro que nem sequer trazia

(... continua)

1 comentário:

  1. quanto dos cigarros que não trazemos e do lume que nos dão [mas sem chama] nos define?...
    beijo, amiga!
    p.s. texto soberbo!

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