«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

bala número catorze

quem foi morto hoje?
algures, numa página de jornal alva, violada por suja tinta negra, rostos apagados de pessoas esquecidas, ladeadas por caixilhos pretos.
todos os nomes que me lembro, todos aqueles que consigo lembrar.
quem foi morto hoje?
Alzira, Joaquina, Humberto, Diogo, Josué, D. Albina, Sr. Ferreira, D. Luisinha, Sr. Joaquim: foram mortos ontem. e quem foi morto hoje?
outros nomes, que não estes, serão pintados numa outra página de um qualquer jornal, de uma qualquer outra terra, outra língua, outro povo, outra raça.
quem foi morto hoje?

e mesmo assim amanhã será amanhã

2 comentários:

  1. inexoravelmente o amanhã será amanhã, assim como as certeiras palavras que encantam o verso,


    beijo

    ResponderEliminar
  2. é mesmo assim, querida amiga. a morte é anónima, salvo para as areias cósmicas que um dia se deitaram ao nosso lado, na mesma praia.
    texto inquietante. a lembrar "todos os nomes", do imenso saramago!

    ResponderEliminar