«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 24 de março de 2011

Polaroid 26

EN105

carregam palmas nos braços em arco:
o vento afaga as fitas brancas, cinzentas, roxas
a chuva escorre pelas molduras de cobre oxidado

raspam os chinelos nos paralelos cinzentos:
as rugas desenham o passado nos seus rostos escuros
o seu nome foi esquecido entre estatuas de mármore

agasalham a solidão com velhos xailes negros:
as costas dobram-se nos dias que caíram
a voz perdeu-se na solidão das suas casas à beira da estrada

as ervas marcam a berma
e eu estou atrasada

1 comentário:

  1. enigmático... procuro perceber que chuva ácida é esta que lava o calcário da estrada de santo tirso...
    as ervas são de todos os seres vivos os mais contraditórios: representam tudo quanto se não deseja: solidão, abandono... e, contudo, nascem, multiplicam-se, estendem-se sempre além do aço que as arranca no fio breve do tempo.
    beijos!

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