«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

sexta-feira, 4 de março de 2011

Manifesto CV

Mãos

são sulcos cravados: na pele, estalada
são abismos que se abrem: entre teias de tendões
são ossos quebrados: na garganta inflamada
são beijos gelados: sobre a estátua de mármore

olhar: através da neblina, entre fragas geladas
olhar: o vulto escurecido, negro e o negro que sai
olhar: a escuridão que rodeia, aperta o peito
olhar: a escuridão invadir, invadir e sumir

no fundo do corpo é o frio que nos agasalha

é:
o silêncio,
o negro,
o vazio,
a escuridão,
o espelho partido,
o sangue

1 comentário:

  1. "o silêncio,
    o negro,
    o vazio,
    a escuridão,
    o espelho partido,
    o sangue"
    mas, ainda assim, mãos. e, se ainda mãos, sempre homem.
    um abraço!

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