«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

domingo, 20 de março de 2011

Pedradas LIII

Equinócio

não me importa:
dos copos de cristal
das flores em jarras
de janelas, de portas

[os vidros rasgam-me a pele
traçam mapas entre veias cansadas]

não me importa:
da lua redonda (que fosse quadrada)
dos dias que cercam as noites
das noites que assassinam os dias (que fosse o tempo)

[o nome escreve-se com lápis de carvão
e apaga-se com o ácido derramado do peito]

2 comentários:

  1. não me importa. sei onde se esconde a porta. o corpo derrete sob o ácido. o aço [da chave e da fechadura] permanece. a mão, mesmo que mecânica, não perde os reflexos, seja qual for a forma que os loucos dêem à lua.
    beijos, amiga!

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  2. O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido.

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