«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 1 de março de 2011

Polaroid 25

Cowboy

desenha na terra com a biqueira das botas
mas a terra é seca e voa no vento

tapa o rosto com o chapéu de abas puído
mas o sol queima a alma sem piedade

enrola um cigarro de palha que fuma lentamente
mas os pulmões rebentaram sobre o peito

tosse, escarra, procura o lenço de pano com quadrados vermelhos, azuis e amarelos
mas aquela miúda roubou-o enquanto fechava um olho

ergue o tronco montado no cavalo
mas os ossos quebram ao peso do céu

foge de encontro a um sol de fim de tarde
mas na montanha desenha-se o fim

Fotografia de Robert Frank: Rodeo, New York City

1 comentário:

  1. por momentos, fizeste-me revisitar arquétipos de felicidade e plenitude que cultivava na infância. o cowboy estava sempre na fila da frente. curiosamente, nesse então, sem "mas"...
    um abraço, laurita!

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