«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 1 de março de 2011

Polaroid 24

Paragem

tenho:
a cara fria apoiada na palma das mãos e é Verão,
os cotovelos apoiados nas coxas, a face apoiada nas coxas, o corpo apoiado no tempo

o osso do cotovelo enterra-se na carne,
o sangue pára
adivinha-se uma nódoa negra, duas: direita, esquerda

observo os pés tortos
que desenham um triangulo na terra de cor esquecida
e de novo o vento, seco

longe, longe do olhar o pó assome,
corre pelo alcatrão a ferver
estaca-se no meu corpo

sinto os pés que desaparecem
as pernas adormecidas,
toda eu sou o cansaço, à espera

Fotografia de Robert Frank, Landscape, Peru,1948

1 comentário:

  1. o tédio angustiante que mina o corpo e amolece as vontades atirado, sem remissão, para uma recta de perder de vista do peru. ironia maior!
    beijinho, amiga!

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