«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 19 de junho de 2012

Polaroid 53



devoluto

a última chávena repousa no lava-louça
no fundo um circulo desenhado pelo café
pelo balcão sobejam pedaços do que fomos

nem as formigas se alimentam das migalhas secas
nem os armários abrigam as traças

um último olhar ao longo das paredes esquecidas
o último sentir do frio do balcão de mármore
a réstia da lembrança das manhas perfumadas de verão

quem vier que pinte as paredes, forre as gavetas, encha os armários
quem vier que conte as histórias que lhe ocorram
quem vier que trate do nosso enterro

[estivemos sempre afastados, vivemos sempre sozinhos]

5 comentários:

  1. É um lado inevitável de todos nós. A borra de café no fundo da pia... Disforme!

    Belo poema!

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  2. .


    E se o poeta chora, porque
    não chorar com ele ao invés
    de "percevejar" no quadro as
    lindas borboletas?

    Palhaço Poeta






    .

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  3. L.A, um textaço que levantou todos os meus defuntos!
    Pensei: quantas paredes rabiscadas deixei pra trás?
    Bj grande

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  4. Há quem leia o futuro nas borras de café, há quem prefira partir em busca da sua construção...

    Beijo :)

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  5. teu jeito único de dizer o sentir... já é companhia!

    beijinho, querida poeta!

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