«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 18 de junho de 2012

purgatorium XXXI



E agora? O resto da folha horrivelmente branca e a tinta assustadoramente negra. Nenhuma voz ganha corpo suficiente para deixar o seu trilho, nenhum corpo me chega para assentar a alma.
E agora? Deixar que o abismo aumente violento debaixo das minhas passadas, ou fingir que finjo, que acredito que sei voar.
E agora? A verdade escrita diante de mim. Moldada. Berrada. E os ouvidos surdos de dor.
E agora? No fundo, o denso rio imóvel. No passado a promessa, mas também ninguém a ouvi outrora, ninguém a saberá no futuro.
E agora? Só me resta conseguir saltar.
Estas pausas, esta inércia: este tudo ou nada? Nenhuma imagem é digna dos meus olhos. Pausa.

1 comentário:

  1. Laurinha,
    nos caminhos do Purgatorium parece que é assim mesmo, "tudo ou nada", como se não existissem alternativas no meio disso. Os extremos em composição e decomposição da alma.
    Maravilhosa série!
    Beijos!

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