«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 3 de maio de 2012

purgatorium XXIV

Hoje, vejo os que se afastam em largas passadas, tornam-se minúsculas figuras até que desaparecem do meu olhar. Conheço-os, sempre os conheci e mesmo quando a sua imagem desaparece do meu alcance, sei-os desde sempre.
Sempre estiveram arrumados nas prateleiras, perfeitamente catalogados, esquecidos, ocultos pelo pó. A maior mentira de todas, o que se não vê jamais será lembrando.
Hoje, saíram todos do seu covil, limparam o pó que os cobria, vestiram o seu melhor fato. Saíram.
Fico aqui a ver as suas negras formas contra a linha do horizonte. Grito uma despedida. Ouço um adeus lancinante.
Acendo um cigarro, esperança vã que a bronquite se decida de uma vez.
E da memória nada reste.

9 comentários:

  1. A violência da memória é pior do que punhal e essas imagens (que purgam) sei de cor.
    Repetindo sem cansar... Adoro tua tinta!
    Bj imenso

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  2. Acessei pelo facebook, pois não estou conseguindo via blog.Aparece-me como um blog fechado.
    bj

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  3. a memória atormenta com seus tragos infindos,



    beijo

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  4. depois de fatos, os dias tornam-se fardos...

    beijinho carinhoso, querida amiga poeta!

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  5. Estava com uma saudade danada! da tua escrita! Não tenho podido visitar os blogues que gosto, ultimamente, devido a problemas de saúde na família. Hoje conseguí um tempinho e cá estou! Tentei acessá-lo, e na primeira vez o blogger saiu com aquela de "perfil não disponível". Ainda bem que conseguí!
    Escreves tão bem!, Laura, sinto como se estivesses conversando comigo, tão claro te expressas!!

    um beijo

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  6. - deu vontade de dizer: a superação de nós mesmos depende de como tratamos o conteúdo do íntimo. se o transformaremos em luz ou se o pintaremos com a ilusão da treva.

    e tem mais, seu texto, de alguma forma, me fez recordar essa música aqui:

    "Posso ouvir o vento passar,
    assistir à onda bater,
    mas o estrago que faz
    a vida é curta pra ver...
    Eu pensei..
    Que quando eu morrer
    vou acordar para o tempo
    e para o tempo parar:
    Um século, um mês,
    três vidas e mais
    um passo pra trás?
    Por que será?
    ... Vou pensar.

    - Como pode alguém sonhar
    o que é impossível saber?
    - Não te dizer o que eu penso
    já é pensar em dizer
    e isso, eu vi,
    o vento leva!
    - Não sei mais
    sinto que é como sonhar
    que o esforço pra lembrar
    é a vontade de esquecer...
    E isso por que?
    Diz mais!
    Uh... Se a gente já não sabe mais
    rir um do outro meu bem então
    o que resta é chorar e talvez,
    se tem que durar,
    vem renascido o amor
    bento de lágrimas.
    Um século, três,
    se as vidas atrás
    são parte de nós.
    E como será?
    O vento vai dizer
    lento o que virá,
    e se chover demais,
    a gente vai saber,
    claro de um trovão,
    se alguém depois
    sorrir em paz.
    Só de encontrar"

    O Vento - Los Hermanos
    música: http://www.youtube.com/watch?v=DeiYR0eST7U

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  7. O afastamento (de todos e por todos) se faz necessário, às vezes. Quando se está perto demais, a visão pode ficar ofuscada e embassada. Tanto que temos a sensação de que o próximo está distante e o distante está próximo.

    Bjo

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  8. Laurinha,
    porque tem seres que nos abitam, e que voltam como aquele velho monstro, repaginado e ainda menos simpático.
    Lindo, lindo!

    Tive que retirar provisoriamente do meu blog os "blogs recomendados", havia uma imagem com problemas. Irei retomar nos próximos dias, talvez me escape de vir em algum post teu em função disso.

    Beijos!

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  9. Nem a bronquite é capaz de expurgar o monstro da memória.

    Como sempre tocante .
    Bjs

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